São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2011

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BARBARA GANCIA

Julian Assange para Nobel da Paz!


Ele ofereceu ao mundo uma maneira nova de fiscalizar o sistema e está deixando a turma tiririca


VAMOS COMBINAR que apenas uma ínfima minoria estaria disposta a usar a bicicleta como meio de transporte.
Pessoal gosta mesmo é de fazer qualquer malabarismo, em 60 vezes, pela liberdade de circular conduzindo seu próprio possante.
Ousaria dizer que boa parte da humanidade negociaria a mãe no dia de Natal pela oportunidade de trocar de carro a cada dois anos.
É praticamente isso que os americanos vêm fazendo desde que Henry Ford criou o modelo T, só que com as mãezinhas do Oriente Médio e sem a anuência das mesmas.
Sejamos honestos: eu não me lembro de ver ninguém reclamando do presidente egípcio Hosni Mubarak antes deste movimento que pede a sua renúncia.
Repressão na Arábia Saudita, a gente fazia que não via, já que os mulás iranianos são bem mais ferozes e querem a bomba. Meu Deus, a bomba atômica para destruir Israel e a possibilidade de eu encher o tanque do meu Focus!
Mas, vem cá: não é na Arábia Saudita que a mulher não pode sair de casa desacompanhada? E não é no Egito empobrecido e debilitado de Mubarak que os homossexuais são sumariamente executados? Como não nos ativemos a esses "pormenores" antes?
Simples. Por que nos foi dito pela propaganda norte-americana que os países do Oriente Médio não tinham maturidade, que precisavam de regimes linha dura, caso contrário, descambariam para o radicalismo. E, usando do mesmo grau de compreensão que os norte-americanos utilizam para enxergar tudo aquilo que subsiste além do horizonte coalhado de cactos e poeira da fronteira do Texas, nós aceitamos sem questionar a versão de que o muçulmano é quase um bicho indomado de tão retrógrado.
Só que daí surgiu em cena o sr. Julian Assange com seu WikiLeaks, um site cuja criptografia complexa se presta a servir de receptador de documentos vazados.
Qualquer um que esteja dentro de um conglomerado, de um ministério no país que for ou de uma situação privilegiada e venha a servir de testemunha de um malfeito pode se valer do WikiLeaks para denunciar o ocorrido.
Na prática, é a deduração em prol de um mundo melhor. É o controle exercido a partir do lado de dentro do sistema que irrompe entre uma estrutura e outra de poder forçando o caminho para a transparência.
Foram documentos vazados no WikiLeaks que fizeram a classe média e os estudantes da Tunísia, do Iêmen e do Egito se animar a sair às ruas. E foi esse movimento que nos despertou para o fato de que no Oriente Médio existe um cidadão aberto para a modernidade e, ao mesmo tempo, tão moderado politicamente quanto qualquer habitante da Flórida ou da Califórnia. Não sabemos direito como ele pensa, mas estamos nos dando conta de que a religião não é uma parte tão integrante assim da vida dele. E, ao que parece, esse cara deseja viver em uma democracia.
Isso é uma descoberta e tanto e é por este motivo que eu apoio com entusiasmo a ideia da indicação do criador do WikiLeaks para o Prêmio Nobel da Paz.
Julian Assange ofereceu ao mundo uma maneira nova de fiscalizar o sistema e está deixando a turma tiririca. Se descabela toda, Hillary! O que Assange fez é inédito e complementar ao jornalismo. Conseguiu colocar transparência onde mais se precisa dela.

barbara@uol.com.br www.barbaragancia.com.br

@barbaragancia



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