São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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ACIDENTE

Veículo transitava em área proibida a veículos pesados e não conseguiu vencer aclive; no acesso, porém, falta sinalização

Escavadeira tomba e mata 4 no Morumbi

Robson Ventura/Folha Imagem
Escavadeira destrói Uno, onde estavam quatro pessoas, após carreta deslizar em uma rua no bairro do Morumbi (zona oeste de SP)


SÍLVIA CORRÊA
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma carreta que transitava em área proibida deslizou na pista e matou quatro ocupantes de um táxi, às 9h de ontem, no Morumbi (zona oeste de SP). O acidente ocorreu na subida de uma ladeira na rua Dr. Francisco Tomás de Carvalho, quase na esquina da av. Giovanni Gronchi.
A carreta transportava uma escavadeira de 16 toneladas. Quando o veículo patinou e começou a deslizar rua abaixo, a carroceria perdeu alinhamento, fechando a pista, batendo em um muro e inclinando-se. A escavadeira, então, tombou sobre o táxi de Luiz Antônio de Moraes, 60, um Fiat Uno de Itapecerica da Serra.
Nele, além do motorista, viajavam a aposentada Selma Portilho Picon, 68, a professora Patrícia do Carmo Picon, 32, filha de Selma, e a enfermeira Ezenete Oliveira Silva, 56. Todos morreram antes de serem socorridos.
É exatamente devido à inclinação da via -cerca de 25% (o equivalente a 23º)- que o trânsito de veículos pesados é proibido na rua do acidente. A norma está expressa em placas colocadas nos dois sentidos da Giovanni Gronchi, quase na esquina com a Francisco Tomás de Carvalho, alertando quem pretenda descer a via.
Para quem sobe a rua, no entanto, a única sinalização existente está na avenida Morumbi, sentido marginal Pinheiros, a quase um quilômetro do local do acidente.
A carreta, porém, teria vindo da marginal, sentido no qual não havia, ontem, nenhuma placa. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) disse que vai apurar a origem da falha de sinalização.
Há divergências sobre os motivos pelos quais a carreta não venceu o aclive. De acordo com testemunhas, o motorista, Claudomiro da Silva Vargas, 32, teria tido problemas de combustível, chegando a descer da cabine, calçar os pneus da carreta e transferir diesel entre seus dois tanques, mas não conseguiu arrancar.
Vargas, porém, disse à Polícia Civil e ao advogado da empresa para a qual trabalha que o veículo, de 12 metros de extensão, não subiu devido ao seu peso -no total, 31 toneladas-, deslizando após ter parado em um sinal fechado.
O motorista levava a escavadeira da Vila Santa Catarina para uma obra perto da Giovanni Gronchi. Ele diz que se perdeu após a ponte do Morumbi, foi guiado até a rua do acidente por um caminhão de pequeno porte e não viu sinalização que impedisse o acesso de carretas ao local.
Vargas foi preso em flagrante sob a acusação de homicídio culposo (sem intenção), mas deveria ser solto ainda na noite de ontem, mediante pagamento de R$ 1.000 de fiança. Para o delegado Virgílio Guerreiro Neto, titular do 89º DP (Portal do Morumbi), o motorista foi imprudente e negligente.
Casado e pai de uma menina de quatro anos, Vargas é carreteiro há 12 anos. Ao ver o Uno prensando sobre a escavadeira, teve uma crise nervosa e foi levado ao Hospital do Campo Limpo.
As vítimas voltavam do Hospital São Paulo, na Vila Mariana (zona sul de SP), onde, de acordo com familiares, Selma Portilho tratava um câncer na garganta.
A enfermeira Ezenete trabalhava no hospital e estava de folga ontem, mas decidira acompanhar mãe e filha. O taxista costumava esperar Selma no hospital e levá-la de volta a Itapecerica da Serra, onde todos moravam.
A carreta pertence à Rodopiro Transportes Pesados Ltda., na qual Vargas trabalha há apenas um mês. Vitaliano Piro Neto, 54, um dos donos da empresa, disse ontem que arcaria com a fiança e com as despesas do funeral.
Para especialistas em trânsito, acidentes como esse são resultado de sucessivas falhas do poder público. "A sinalização é rara e confusa, e a fiscalização, ineficiente", avalia o engenheiro Reginaldo Paiva, 63, diretor do departamento de transportes do Instituto de Engenharia de São Paulo.


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