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ACIDENTE
Veículo transitava em área proibida a veículos pesados e não conseguiu vencer aclive; no acesso, porém, falta sinalização
Escavadeira tomba e mata 4 no Morumbi
Robson Ventura/Folha Imagem
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Escavadeira destrói Uno, onde estavam quatro pessoas, após carreta deslizar em uma rua no bairro do Morumbi (zona oeste de SP) |
SÍLVIA CORRÊA
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma carreta que transitava em
área proibida deslizou na pista e
matou quatro ocupantes de um
táxi, às 9h de ontem, no Morumbi
(zona oeste de SP). O acidente
ocorreu na subida de uma ladeira
na rua Dr. Francisco Tomás de
Carvalho, quase na esquina da av.
Giovanni Gronchi.
A carreta transportava uma escavadeira de 16 toneladas. Quando o veículo patinou e começou a
deslizar rua abaixo, a carroceria
perdeu alinhamento, fechando a
pista, batendo em um muro e inclinando-se. A escavadeira, então,
tombou sobre o táxi de Luiz Antônio de Moraes, 60, um Fiat Uno
de Itapecerica da Serra.
Nele, além do motorista, viajavam a aposentada Selma Portilho
Picon, 68, a professora Patrícia do
Carmo Picon, 32, filha de Selma, e
a enfermeira Ezenete Oliveira Silva, 56. Todos morreram antes de
serem socorridos.
É exatamente devido à inclinação da via -cerca de 25% (o
equivalente a 23º)- que o trânsito de veículos pesados é proibido
na rua do acidente. A norma está
expressa em placas colocadas nos
dois sentidos da Giovanni Gronchi, quase na esquina com a Francisco Tomás de Carvalho, alertando quem pretenda descer a via.
Para quem sobe a rua, no entanto, a única sinalização existente
está na avenida Morumbi, sentido
marginal Pinheiros, a quase um
quilômetro do local do acidente.
A carreta, porém, teria vindo da
marginal, sentido no qual não havia, ontem, nenhuma placa. A
CET (Companhia de Engenharia
de Tráfego) disse que vai apurar a
origem da falha de sinalização.
Há divergências sobre os motivos pelos quais a carreta não venceu o aclive. De acordo com testemunhas, o motorista, Claudomiro da Silva Vargas, 32, teria tido
problemas de combustível, chegando a descer da cabine, calçar
os pneus da carreta e transferir
diesel entre seus dois tanques,
mas não conseguiu arrancar.
Vargas, porém, disse à Polícia
Civil e ao advogado da empresa
para a qual trabalha que o veículo,
de 12 metros de extensão, não subiu devido ao seu peso -no total,
31 toneladas-, deslizando após
ter parado em um sinal fechado.
O motorista levava a escavadeira da Vila Santa Catarina para
uma obra perto da Giovanni
Gronchi. Ele diz que se perdeu
após a ponte do Morumbi, foi
guiado até a rua do acidente por
um caminhão de pequeno porte e
não viu sinalização que impedisse
o acesso de carretas ao local.
Vargas foi preso em flagrante
sob a acusação de homicídio culposo (sem intenção), mas deveria
ser solto ainda na noite de ontem,
mediante pagamento de R$ 1.000
de fiança. Para o delegado Virgílio
Guerreiro Neto, titular do 89º DP
(Portal do Morumbi), o motorista
foi imprudente e negligente.
Casado e pai de uma menina de
quatro anos, Vargas é carreteiro
há 12 anos. Ao ver o Uno prensando sobre a escavadeira, teve uma
crise nervosa e foi levado ao Hospital do Campo Limpo.
As vítimas voltavam do Hospital São Paulo, na Vila Mariana
(zona sul de SP), onde, de acordo
com familiares, Selma Portilho
tratava um câncer na garganta.
A enfermeira Ezenete trabalhava no hospital e estava de folga
ontem, mas decidira acompanhar
mãe e filha. O taxista costumava
esperar Selma no hospital e levá-la de volta a Itapecerica da Serra,
onde todos moravam.
A carreta pertence à Rodopiro
Transportes Pesados Ltda., na
qual Vargas trabalha há apenas
um mês. Vitaliano Piro Neto, 54,
um dos donos da empresa, disse
ontem que arcaria com a fiança e
com as despesas do funeral.
Para especialistas em trânsito,
acidentes como esse são resultado
de sucessivas falhas do poder público. "A sinalização é rara e confusa, e a fiscalização, ineficiente",
avalia o engenheiro Reginaldo
Paiva, 63, diretor do departamento de transportes do Instituto de
Engenharia de São Paulo.
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