São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2005

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JUVENTUDE ENCARCERADA

Febem liberou a visita de mães; projeto é iniciativa para reduzir rebeliões e maus-tratos

"Ele precisa de apoio", diz mãe de interno

DA REPORTAGEM LOCAL

"Para a sociedade eu não sou a Ginaine. Sou a mãe de um marginal. É difícil lidar com isso, lamento essa discriminação." Segundo a dona-de-casa Ginaine Marta Pastega, 36, a família passou por "momentos difíceis" após o filho dela, de 17 anos, ser detido por roubo a mão armada, em dezembro do ano passado.
"O meu marido não queria visitá-lo na Febem. Só agora é que "caiu a ficha" e ele percebeu que o nosso garoto precisa de apoio. O meu filho também se conscientizou do erro que fez. Não passo a mão na cabeça dele. Ele tem de assumir e responder pelo que fez", afirmou.
Ginaine faz parte do projeto Mães na Febem, uma das iniciativas para conter rebeliões nas unidades da fundação e acabar com os maus-tratos contra os jovens. A visita das mães começou na semana passada.
Ontem, elas estiveram no complexo do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, que conta com 18 unidades e foi palco de rebeliões e fugas nos últimos dias, depois de ser anunciada a demissão de 1.751 funcionários.
Na entrada, alguns internos pulavam na cama elástica. Na semana passada, eles se rebelaram e queimaram colchões.
A reportagem da Folha acompanhou as mães em sua visita à unidade 1, onde estão internos primários que cometeram crimes graves como roubo e tráfico de drogas.
Não foi possível acompanhar, no entanto, a entrada das mulheres nas unidades mais problemáticas -como é o caso da 39, onde funcionários estariam com dificuldades para lidar com os adolescentes.
Na opinião do interno Jonas (nome fictício), de 17 anos, que há um ano está na unidade 1, pela primeira vez os adolescentes estão recebendo medidas sócio-educativas. "Antes era só tranca e agressão. Não podíamos fazer nada. Tudo era motivo para espancamentos", disse o adolescente.
Durante a visita, o adolescente Marcos (nome fictício), 18, correu em direção a uma das mães. Queria exibir um desenho. "Agora, posso mostrar o que posso, quero e sei fazer", disse ele, que foi internado por causa de envolvimento com o tráfico. "Eu sei que errei, mas quero seguir o caminho certo. Eu quero sair daqui de cabeça erguida."
As principais reclamações dos internos são a demora no atendimento médico e a falta de produtos de limpeza. A Febem informou que as reivindicações serão estudadas.


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