KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Em depoimento ontem pela manhã no Tribunal de Justiça do Ceará, o juiz Pedro Percy Barbosa Araújo, 57, acusado de matar o vigia de um supermercado em Sobral (CE), José Renato Coelho Rodrigues, 32, afirmou que o disparo foi acidental.
O crime, que aconteceu na noite de domingo, foi gravado pelo circuito interno de TV do supermercado e testemunhado por outras pessoas. Segundo o juiz, ele e o vigia discutiram do lado de fora do supermercado e continuaram a brigar dentro. "Quando começou um empurra-empurra, um agarrando o outro, a arma disparou", disse o advogado de defesa de Araújo, Paulo Quezado, ao reproduzir o depoimento do juiz. A arma, do próprio acusado, ainda não foi entregue à Justiça.
O crime aconteceu às 22h20. O juiz queria entrar no supermercado para fazer compras, mas o vigia o avisou de que o local já estava fechado. Ao perceber que era "uma autoridade", o gerente da loja permitiu sua entrada. As imagens do circuito interno de TV mostram que Araújo entrou com a arma na mão e fez um disparo na nuca do vigia.
O laudo do IML (Instituto Médico Legal) divulgado ontem confirma que a bala entrou pela nuca e ficou alojada no cérebro de Rodrigues. Para o diretor técnico-científico da Secretaria da Segurança Pública do Ceará, Francisco Simão, o crime tem características de "execução sumária".
O relator do inquérito judicial, desembargador Edmilson da Cruz Neves, deve ir a Sobral na próxima terça-feira para ouvir as testemunhas. Até agora, a Polícia Civil já identificou 12 pessoas que presenciaram o crime.
Entre as testemunhas está um homem que, nas gravações, aparece bem atrás do juiz e que pedia para ele se acalmar e não atirar. Para identificar o comerciante Carlos Iramar Pessoa, 33, a polícia teve que periciar as roupas que ele usava na noite do crime. Ele mora em Camocim (129 km de Sobral).
Uma segunda gravação, com imagens externas do supermercado, foi divulgada ontem e mostra a mulher e a filha do juiz. Logo após o disparo, ele fugiu e só se apresentou à Justiça na manhã de terça. Araújo continua preso em uma cela do Comando do Corpo de Bombeiros, em Fortaleza. Segundo Quezado, não há previsão de quando será pedido um habeas corpus ao STJ (Superior Tribunal de Justiça). Segundo o TJ-CE, o inquérito judicial deverá ser concluído até o próximo dia 10.
Estão sendo liberadas visitas ao juiz duas vezes por semana, em horário controlado. Os advogados dele preparam uma lista de pessoas autorizadas. Desde que Araújo chegou à prisão, começou uma "peregrinação" de advogados que se oferecem para a defesa.
Ontem à tarde, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho divulgou nota em que afirma que o crime causou sentimentos de "perplexidade, repulsa, vergonha e indignação" aos juízes do trabalho.


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