São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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Governo afirma que facção movimentou R$ 63 milhões

Relatório do Coaf afirma que a quantia foi movimentada por 686 contas correntes

Transações, atribuídas ao PCC, foram divididas em quantias menores e envolveram 2.607 pessoas; documento detalha ainda bloqueios judiciais

ANDRÉA MICHAEL
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em relatório divulgado ontem, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) detalha um levantamento relacionado ao crime organizado de São Paulo.
Apesar de o relatório não citar explicitamente o nome da facção criminosa, a Folha apurou tratar-se do PCC (Primeiro Comando da Capital), que teria movimentado R$ 63 milhões, entre novembro de 2005 e julho de 2007, por meio de 686 contas correntes.
A maioria das transações bancárias foi feita de forma pulverizada -80% delas inferiores a R$ 100 mil e 20% delas superiores a R$ 100 mil.
O relatório informa que, no período, foram identificadas 2.607 pessoas relacionadas direta ou indiretamente ao crime organizado em São Paulo, das quais 748 constaram de relatórios de informações [do Coaf], 252 continuam em fase de pesquisa e sobre outras 1.607 nada constava inicialmente.
O presidente do Coaf, Antonio Gustavo Rodrigues, explicou que o conselho criou uma rede de informações de pessoas que movimentaram dinheiro ou bens com pessoas supostamente ligadas ao crime organizado. Não está provado que todas essas movimentações sejam de pessoas ligadas ao PCC. "O Coaf não é um banco de criminosos. Não fazemos denúncias-crime. Apenas encontramos uma possível ligação de ilícito", explicou Rodrigues.

Operações de combate
Os dados integram um balanço de atividades do Coaf em 2007, em que se destaca que, em apenas três operações de combate ao crime organizado (Kasper, Exodus e Hurricane), o órgão colaborou para o bloqueio judicial de cerca de R$ 10 milhões, parte em dólares (US$ 1,2 milhão), e R$ 20 milhões em ativos que podem ter sido obtidos criminalmente.
O relatório também destaca que, desde janeiro de 2003, as informações fornecidas pelo Coaf à Justiça contribuíram para o bloqueio judicial de R$ 62,3 milhões. Só em 2007, foram bloqueados R$ 17,7 milhões.
"[O dinheiro circulou] em contas correntes ou previdências privadas pertencentes a pessoas investigadas por crime de lavagem de dinheiro ou outros crimes conexos", diz o relatório de atividades do Coaf.
O Estado do Rio é o recordista de bloqueios da Justiça em contas suspeitas de lavagem de dinheiro. Foram R$ 21,2 milhões entre janeiro de 2003 e dezembro do ano passado.
São Paulo aparece em segundo lugar, com R$ 14,4 milhões bloqueados. Toda a região Sudeste responde por 61% dos bloqueios judiciais em contas do país.

Joalherias
Rodrigues afirmou que as movimentações com joalherias e obras de arte serão prioridade na fiscalização deste ano. Ele explicou que, nos últimos dez anos, o Coaf recebeu apenas 14 notificações de operações atípicas de joalherias.
No ano passado, a prioridade foram as operações de compra e venda de imóveis. O Coaf recebeu informações de 1.736 operações imobiliárias suspeitas, ante 747 comunicações no ano anterior. Além das transações bancárias, estão obrigados a informar operações em espécie superiores a R$ 10 mil ou aquelas consideradas suspeitas os setores de seguros, loterias, imobiliárias, objetos de artes e joalherias.


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