São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2010

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A vida como ela era

Marlene Bergamo/Folha Imagem
A estudante Cássia Prado, a "lady" Helen, e o namorado Eduardo Dourado, o lorde Fire, com os amigos Guilherme e Jéssica no metrô de SP

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na São Paulo da avenida Paulista, uma turma de jovens de 20 e poucos anos provoca estranheza e atrai olhares de espanto por onde passa.
Elas com trajes de "milady" -de gargantilha, corpete, luvas e anáguas-, eles com roupas solenes -de fraque, bengala e relógio de bolso-, o grupo imagina viver na Londres do século 19 e adota o estilo vitoriano nos modos e nos títulos nobiliários.
Como saem às ruas assim, a reação das pessoas é perguntar se estão gravando uma novela de época, se são atores de teatro ou artistas de circo. Até casamentos inspirados no gênero têm sido realizados.
Batizado de "steampunk" -vapor, em inglês, alusão à revolução industrial- o movimento surgiu na Europa nos anos 90, cresceu nos EUA nos últimos anos e chega ao Brasil.
O passatempo da turma é dar voltas de maria-fumaça no Museu do Imigrante, tomar chá em porcelana, visitar lojas de antiguidades, comprar em brechós e ferros-velhos e assistir a filmes como "Sherlock Holmes". E sonham com carruagens.
Como a era vitoriana foi marcada pelo puritanismo, a fixação do grupo é mais estética do que moral. "Se seguirmos a doutrina, não aceitaríamos o sexo antes do casamento, mas cada um tem uma visão de mundo", diz a estudante Cássia Prado, 22, a "lady" Helen.
"Somos mais voltados para o heroico do que para o moralismo, mas alguns valores, como o cavalheirismo, são importantes de serem resgatados", diz Eduardo Dourado, o lorde Fire.
O grupo diz ter adotado o estilo de algum lugar do passado por afinidade com a estética vitoriana e por gostar dos bons modos de beijar a mão e puxar a cadeira para a mulher se sentar.
E a estética do grupo não fica só nos adereços de brechós. As TVs de plasma de alguns deles foram penduradas na parede com molduras rococó para dar um aspecto de pintura de arte. Os laptops de outros foram emadeirados e o teclado ergonômico foi trocado por teclas de máquinas de escrever.
"Não gastamos muito porque improvisamos bastante. Recomendo os colegas procurarem peças nos brechós e inventarem", afirma o artista plástico Carlos Eduardo Felipe, 21.
Com 50 seguidores só em São Paulo, o grupo -à moda vitoriana-, segue uma hierarquia. Há um conselho nacional, ligado a "lojas", termo de inspiração maçônica, coisa típica do século 19 da rainha Vitória.


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