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Era Vitoriana uniu moralismo e modernização
FRANCISCO ALAMBERT
ESPECIAL PARA A FOLHA
A Era Vitoriana (1837-1901) indica o período de hegemonia do capitalismo, cujo
centro passou a ser a Inglaterra. Para a burguesia que
apoiou a rainha Vitória, foi
uma fase de prosperidade;
para as classes baixas, o momento de migração do campo para a cidade, pobreza,
trabalho e formalização de
sua consciência de classe.
Se a era ficou marcada pela
modernização, no âmbito
dos costumes, por outro lado, ela se definiu pela dificuldade de incorporar essa modernização: o puritanismo e
o moralismo forçavam as
contradições da época.
Na Era Vitoriana, as três
mais importantes fontes do
pensamento moderno foram
forjadas: Darwin, Freud e
Marx. Todas estimuladas pelos impulsos de modernização (ciência, mergulho no indivíduo e dinâmica da economia) e, ao mesmo tempo, por
forças conservadoras (fundamentalismo religioso, moralismo social e sexual e exploração capitalista).
Todos esses dramas se materializaram em poderosas
metáforas românticas. As
mais famosas, e sempre reinventadas, como agora, apresentavam a monstruosidade
da ciência que se queria colocar no lugar de Deus (o Frankenstein) ou a misteriosa
força do sexo, do sangue e da
dualidade entre norma e
transgressão (o universo dos
vampiros e suas fábulas).
O universo cultural da burguesia britânica cultuava a
aparência e o esteticismo. A
reinvenção atual tanto de
uma coisa quanto de outra (o
culto à imagem e o apelo hedonista e ultraindividualista) denuncia a presença das
mesmas contradições na cultura atual. Perdidas as forças
de contradição e avanço, os
fantasmas de hoje reinventam o esteticismo, o romantismo inofensivo e o culto à
imagem sem conteúdo.
FRANCISCO ALAMBERT é professor de história da USP.
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