São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2010

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Era Vitoriana uniu moralismo e modernização

FRANCISCO ALAMBERT
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Era Vitoriana (1837-1901) indica o período de hegemonia do capitalismo, cujo centro passou a ser a Inglaterra. Para a burguesia que apoiou a rainha Vitória, foi uma fase de prosperidade; para as classes baixas, o momento de migração do campo para a cidade, pobreza, trabalho e formalização de sua consciência de classe.
Se a era ficou marcada pela modernização, no âmbito dos costumes, por outro lado, ela se definiu pela dificuldade de incorporar essa modernização: o puritanismo e o moralismo forçavam as contradições da época.
Na Era Vitoriana, as três mais importantes fontes do pensamento moderno foram forjadas: Darwin, Freud e Marx. Todas estimuladas pelos impulsos de modernização (ciência, mergulho no indivíduo e dinâmica da economia) e, ao mesmo tempo, por forças conservadoras (fundamentalismo religioso, moralismo social e sexual e exploração capitalista).
Todos esses dramas se materializaram em poderosas metáforas românticas. As mais famosas, e sempre reinventadas, como agora, apresentavam a monstruosidade da ciência que se queria colocar no lugar de Deus (o Frankenstein) ou a misteriosa força do sexo, do sangue e da dualidade entre norma e transgressão (o universo dos vampiros e suas fábulas).
O universo cultural da burguesia britânica cultuava a aparência e o esteticismo. A reinvenção atual tanto de uma coisa quanto de outra (o culto à imagem e o apelo hedonista e ultraindividualista) denuncia a presença das mesmas contradições na cultura atual. Perdidas as forças de contradição e avanço, os fantasmas de hoje reinventam o esteticismo, o romantismo inofensivo e o culto à imagem sem conteúdo.


FRANCISCO ALAMBERT é professor de história da USP.


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