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TRÂNSITO
Resultado de pesquisa em cruzamentos de SP também é motivado por demora excessiva para abertura de semáforo
1/5 dos pedestres passam em sinal vermelho
Felipe Varanda/Folha Imagem
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Faixa de pedestres na av. Paulista, na altura da rua Haddock Lobo |
ALENCAR IZIDORO
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um automóvel a 40 km/h consegue percorrer de ponta a ponta
a avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo, em menos
tempo do que um pedestre que
tenta atravessar a mesma via da
calçada de um lado à do outro.
Essa condição retrata o tratamento dado a quem se desloca a
pé na capital paulista e no Brasil e
é uma das explicações para que
um quinto das travessias em alguns cruzamentos seja feito no semáforo vermelho, conforme revela uma pesquisa inédita, sob
coordenação do engenheiro Horácio Augusto Figueira, da Universidade Anhembi Morumbi.
Esse levantamento foi realizado
por alunos de Figueira de setembro a novembro de 2003, durante
36 horas, em seis intersecções de
bairros movimentados e nobres
da cidade de São Paulo. Dos
22.886 pedestres observados,
4.708 -20,57%- fizeram a travessia no semáforo vermelho. A
desobediência foi maior entre os
homens -24,16%- do que entre
as mulheres -16,92%.
Por trás do desrespeito dos pedestres aos semáforos, porém, está uma situação de desrespeito
dos governos e dos usuários de
automóvel com quem anda a pé,
segundo a avaliação de Figueira.
Os dados mostram que a intensidade com que os semáforos são
desrespeitados pode, muitas vezes, estar relacionada à demora
excessiva para a abertura do verde, bem como ao tempo reduzido
reservado para as travessias.
Quem tenta atravessar a avenida Paulista nos cruzamentos com
a rua Haddock Lobo e com a alameda Ministro Rocha Azevedo,
por exemplo, chega a esperar até
quatro minutos e 40 segundos,
tempo suficiente para um carro
percorrer os 2,8 km da via inteira.
Essa demora, conforme atestou
a reportagem às 16h da última
quarta-feira, ocorre porque os pedestres são obrigados a fazer a travessia em duas fases, tendo de ficar parados no canteiro central.
"Até os ingleses se tornam impacientes depois de um minuto
de espera", afirma Eduardo José
Daros, presidente da Abraspe
(Associação Brasileira de Pedestres). Ele diz que os transeuntes
decidem arriscar a travessia no
meio dos automóveis, sob a
ameaça de serem atropelados, até
mesmo porque avaliam que os semáforos podem estar quebrados.
A pesquisa de Figueira -que é
vice-presidente da Abraspe- foi
precedida de estudos, nos dois
anos anteriores, que fizeram uma
avaliação do comportamento dos
motoristas paulistanos -mostrando que, de cada 10 mil infrações cometidas por passagem no
semáforo vermelho e parada na
faixa de pedestres, apenas uma
acabava sendo convertida em
multa por fiscais de trânsito.
Eles também apontaram que
38,29% dos motoristas não davam seta para fazer conversões à
esquerda ou à direita -índice superior aos 20,51% de pedestres
que desrespeitaram os semáforos.
O levantamento sobre a desobediência nas travessias mostrou
que, das seis intersecções computadas, a da rua Fernando Albuquerque com a rua Bela Cintra, na
região da Consolação (centro), registrou os menores tempos totais
de ciclo verde do semáforo
(7,95%) e a maior média de desrespeito -61,32% dos pedestres
passaram no sinal vermelho.
Dentre todos os cruzamentos
analisados, a pesquisa identificou
que os segmentos com maiores
proporções de desobediência ao
semáforo foram os homens entre
16 e 30 anos -28%- e de 31 a 50
anos -26,34%. Os mais obedientes foram as crianças e os adolescentes de até 15 anos do sexo masculino -11,06% de desrespeito-
e as mulheres mais velhas, com 51
anos ou mais -11,78%. A classificação por faixa etária foi feita de
acordo com a aparência dos pedestres, já que os pesquisadores
não tinham como abordar todos.
"É claro que os pedestres têm
uma parte de responsabilidade.
Mas eles também são vítimas da
falta de infra-estrutura urbana",
afirma Figueira. Ele e Daros lembram ainda que, diferentemente
dos motoristas, que precisam passar por testes para obter uma carteira de habilitação, os pedestres
integram um grupo diversificado,
incluindo até mesmo doentes
mentais. Esse foi um dos motivos
para a parte do Código de Trânsito Brasileiro que previa penalidades aos pedestres a partir de 1998
não ter saído do papel.
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