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COMPORTAMENTO
Nova tendência combina camisetas básicas com roupas de grife para adaptar o visual à personalidade
"Sex and the City" ganha tradução em SP
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 43 anos, Rose Koraicho é
divorciada. Tem três filhos (uma
menina de 15, dois rapazes de 18 e
23 anos). Formação católica, vem
de uma família síria que no começo do século passado se instalou
na rua 25 de Março, vendendo tecidos. Há dois meses, namora um
modelo fotográfico de 26 anos.
Empresária, Koraicho é a única
mulher na diretoria do Secovi
(Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e
Comerciais de São Paulo), em 54
anos de existência da entidade.
Do alto de uma sandália Christian Dior, Koraicho afirma suas
convicções socialistas ("Votei no
PT e não me arrependo"), a amizade com a prefeita Marta Suplicy
("Adorei estar no casamento dela") e a preferência por um ovinho
vibrador ("Para o orgasmo clitoriano, não tem igual"). Impossível
não notar: nas atitudes, Koraicho
parece-se demais com a Samantha da série americana "Sex and
the City", que reestréia amanhã
no Brasil, em sua sexta e última
temporada (Canal Multishow).
Anote aí: chick-lit (pronuncia-se "chic láiti"). O termo designa o
gênero literário pós-feminista que
se popularizou nos Estados Unidos com títulos tão auto-explicativos como "Agarrando Homens", "Boa de Cama", "O Diário
de uma Noiva Louca", "Confissões de uma Shopaholic" (viciada
em compras). Também "Sex and
the City", com suas quatro protagonistas, Carrie, Charlotte e Miranda, além de Samantha, é
chick-lit. Em comum, as protagonistas da cultura chick-lit trabalham, têm seu próprio dinheiro,
estão satisfeitas com suas vidas,
mas querem mais. Vão às compras (e como compram!).
Sexualmente emancipadas, não
hesitam em vestir um traje romântico para encontrar o "pretê"
(pretendente). Longe do gênero
peruas esnobes, preferem se incluir no seleto rol daquelas que
conseguem combinar uma camiseta regata Hering (R$ 19,90) com
a bolsa Balenciaga (R$ 3.600 a R$
6.000), como fazem as top models
Mariana Weickert, Marcelle Bittar e Luciana Curtis. Em busca das
autênticas representantes brazucas dessa tendência, a reportagem
da Folha passou uma semana
num templo chick-lit de São Paulo, a loja Clube Chocolate.
"Não importa se a mulher fala
cantonês, francês, italiano ou português. Acima de US$ 1 milhão de
patrimônio, as aspirações de consumo são parecidas no mundo todo", teoriza o diretor de compras
do Clube Chocolate, José Xavier
de Britto Neto, 30, que morou 6
anos em Hong Kong e se habituou à ponte aérea Ásia-Brasil,
com escalas em Paris, Milão, Londres e Nova York -sempre no
circuito do alto-consumo.
Para provar sua tese, Xavier
lembra a visita que a figurinista de
"Sex and the City", Patricia Field,
fez à Clube Chocolate, em fevereiro, comprando itens para sua loja
em Nova York, a Hôtel Venus.
Tudo no Clube Chocolate, recende a riqueza. Chega-se à loja
quase sempre a bordo de um carro blindado, compram-se roupas,
sapatos, acessórios, jóias, artigos
de decoração, CDs e revistas, almoça-se, janta-se, olha-se e se é
olhado, encontram-se amigas.
Ninguém percebe, mas a R$ 120
o quilo, o sal do restaurante é importado das salinas de um monastério francês do século 4, entre
a Bretanha e a Normandia. O chefe da cozinha já preparou banquetes no Plaza Athennée de Paris
(diárias de até 6.300). O maître
veio do descoladíssimo Bistrô
Georges, também de Paris. Na loja, tem blusinhas de cashmere que
custam R$ 6.298, tem sapatos de
salto alto Azzedine Alaïa, feito de
couro de arraia (sim, o peixe virou
moda!), ao preço de R$ 3.200.
Tem sex shop delicadíssima, chamada pelas freqüentadoras de
Clube das Meninas, toda em tons
de rosa, que vende por R$ 798 um
eficiente, segundo garante a vendedora, êmulo fálico em dois tamanhos: 18 centímetros e 10 centímetros de comprimento. O personagem Samantha usou um
igual durante um episódio da série. E se apaixonou.
As "sócias" do Clube Chocolate,
na verdade clientes, são adeptas
entusiasmadas do conceito da loja. Até há pouco, para elas, a tradicional Daslu era inescapável. Com
um exército de seguranças na
porta, sistemas de alarme e vigilância, a Daslu lembra um bunker
americano em Fallujah, no Iraque
ocupado. Dentro, as mercadorias
dividem-se por marcas. Milhares
de objetos de várias marcas.
Na Clube Chocolate, a loja foi
dividida não por grifes, mas por
estilos de mulher. Tem a mulher
"romântica", a "minimalista",
que só se veste de preto e branco, a
"natural", a "de férias", "na academia", além do Clube das Meninas, é claro. Nelas, misturam-se
marcas, acessórios, itens de desejo. "Tem quem chegue aqui e arremate, de uma só vez, todo o
look que veste um manequim, do
sapato ao brinco", diz Xavier.
Como em "Sex and the City", os
estilos são vários, nenhuma tribo
briga com a outra, todas conversam entre si e a única coisa que
importa é ser moderna. Afluência
é pressuposto. A seguir, outras
candidatas a protagonista de uma
possível versão brasileira da série:
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