São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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COMPORTAMENTO

Nova tendência combina camisetas básicas com roupas de grife para adaptar o visual à personalidade

"Sex and the City" ganha tradução em SP

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 43 anos, Rose Koraicho é divorciada. Tem três filhos (uma menina de 15, dois rapazes de 18 e 23 anos). Formação católica, vem de uma família síria que no começo do século passado se instalou na rua 25 de Março, vendendo tecidos. Há dois meses, namora um modelo fotográfico de 26 anos.
Empresária, Koraicho é a única mulher na diretoria do Secovi (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo), em 54 anos de existência da entidade.
Do alto de uma sandália Christian Dior, Koraicho afirma suas convicções socialistas ("Votei no PT e não me arrependo"), a amizade com a prefeita Marta Suplicy ("Adorei estar no casamento dela") e a preferência por um ovinho vibrador ("Para o orgasmo clitoriano, não tem igual"). Impossível não notar: nas atitudes, Koraicho parece-se demais com a Samantha da série americana "Sex and the City", que reestréia amanhã no Brasil, em sua sexta e última temporada (Canal Multishow).
Anote aí: chick-lit (pronuncia-se "chic láiti"). O termo designa o gênero literário pós-feminista que se popularizou nos Estados Unidos com títulos tão auto-explicativos como "Agarrando Homens", "Boa de Cama", "O Diário de uma Noiva Louca", "Confissões de uma Shopaholic" (viciada em compras). Também "Sex and the City", com suas quatro protagonistas, Carrie, Charlotte e Miranda, além de Samantha, é chick-lit. Em comum, as protagonistas da cultura chick-lit trabalham, têm seu próprio dinheiro, estão satisfeitas com suas vidas, mas querem mais. Vão às compras (e como compram!).
Sexualmente emancipadas, não hesitam em vestir um traje romântico para encontrar o "pretê" (pretendente). Longe do gênero peruas esnobes, preferem se incluir no seleto rol daquelas que conseguem combinar uma camiseta regata Hering (R$ 19,90) com a bolsa Balenciaga (R$ 3.600 a R$ 6.000), como fazem as top models Mariana Weickert, Marcelle Bittar e Luciana Curtis. Em busca das autênticas representantes brazucas dessa tendência, a reportagem da Folha passou uma semana num templo chick-lit de São Paulo, a loja Clube Chocolate.
"Não importa se a mulher fala cantonês, francês, italiano ou português. Acima de US$ 1 milhão de patrimônio, as aspirações de consumo são parecidas no mundo todo", teoriza o diretor de compras do Clube Chocolate, José Xavier de Britto Neto, 30, que morou 6 anos em Hong Kong e se habituou à ponte aérea Ásia-Brasil, com escalas em Paris, Milão, Londres e Nova York -sempre no circuito do alto-consumo.
Para provar sua tese, Xavier lembra a visita que a figurinista de "Sex and the City", Patricia Field, fez à Clube Chocolate, em fevereiro, comprando itens para sua loja em Nova York, a Hôtel Venus.
Tudo no Clube Chocolate, recende a riqueza. Chega-se à loja quase sempre a bordo de um carro blindado, compram-se roupas, sapatos, acessórios, jóias, artigos de decoração, CDs e revistas, almoça-se, janta-se, olha-se e se é olhado, encontram-se amigas.
Ninguém percebe, mas a R$ 120 o quilo, o sal do restaurante é importado das salinas de um monastério francês do século 4, entre a Bretanha e a Normandia. O chefe da cozinha já preparou banquetes no Plaza Athennée de Paris (diárias de até 6.300). O maître veio do descoladíssimo Bistrô Georges, também de Paris. Na loja, tem blusinhas de cashmere que custam R$ 6.298, tem sapatos de salto alto Azzedine Alaïa, feito de couro de arraia (sim, o peixe virou moda!), ao preço de R$ 3.200. Tem sex shop delicadíssima, chamada pelas freqüentadoras de Clube das Meninas, toda em tons de rosa, que vende por R$ 798 um eficiente, segundo garante a vendedora, êmulo fálico em dois tamanhos: 18 centímetros e 10 centímetros de comprimento. O personagem Samantha usou um igual durante um episódio da série. E se apaixonou.
As "sócias" do Clube Chocolate, na verdade clientes, são adeptas entusiasmadas do conceito da loja. Até há pouco, para elas, a tradicional Daslu era inescapável. Com um exército de seguranças na porta, sistemas de alarme e vigilância, a Daslu lembra um bunker americano em Fallujah, no Iraque ocupado. Dentro, as mercadorias dividem-se por marcas. Milhares de objetos de várias marcas.
Na Clube Chocolate, a loja foi dividida não por grifes, mas por estilos de mulher. Tem a mulher "romântica", a "minimalista", que só se veste de preto e branco, a "natural", a "de férias", "na academia", além do Clube das Meninas, é claro. Nelas, misturam-se marcas, acessórios, itens de desejo. "Tem quem chegue aqui e arremate, de uma só vez, todo o look que veste um manequim, do sapato ao brinco", diz Xavier.
Como em "Sex and the City", os estilos são vários, nenhuma tribo briga com a outra, todas conversam entre si e a única coisa que importa é ser moderna. Afluência é pressuposto. A seguir, outras candidatas a protagonista de uma possível versão brasileira da série:


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