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FASHION KIDS
Para psicólogos, competição pode afetar auto-estima e pais precisam se perguntar o porquê dessa exposição
Concurso de beleza reúne 150 crianças em SP
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Para 150 crianças, a tarde ensolarada de ontem foi dedicada a
"brincar de fashion week". Maquiadas e fantasiadas, elas participaram do 1º Concurso Best Kids
Models, no Memorial da América
Latina (zona oeste de São Paulo).
O concurso recebeu cerca de
4.500 inscrições. Entre as selecionadas para desfilar, havia crianças
do Piauí e do Rio Grande do Sul.
Na platéia, um batalhão de pais,
tios e avós munidos de filmadoras
e máquinas fotográficas. Alguns
foram além, como os familiares
de Júlia, 6, que vestiam camisetas
com a foto da menina estampada.
Júlia chegou a receber o prêmio
de primeiro lugar -um cheque
de R$ 5.000, mas por engano. A
Júlia vencedora era outra. "Ela ficou um pouco chateada, mas tudo bem. Comemoramos do mesmo jeito", disse Maria Alice Campos, 52, avó da menina.
Nem todas as crianças, porém,
encaravam o resultado com tanta
calma. Algumas saíram chorando
e os pais, para animá-las, repetiam que elas que deveriam ter ganho -apesar de a organizadora
do concurso, Nyna Odriozola, ter
repetido várias vezes o antigo bordão "o importante é participar".
"Todo pai é narcisista e eu acho
que muitas crianças aceitam melhor o resultado que eles", afirma
Nyna, que conhece o mundo dos
modelos infantis de perto: ela começou a trabalhar na área com 13
anos e seus quatro filhos já estavam em comerciais a partir dos
seis meses de idade. Para Nyna, o
processo pode ajudar no amadurecimento da criança. "O concurso traz autoconfiança, o que, na
dose certa, é positivo. Além disso,
elas aprendem a competir, e na vida é assim -a gente compete, às
vezes ganha, às vezes perde."
O tema é controverso. Embora
tenha cedido ao pedido da filha
para participar do concurso, o
médico Eduardo Valle, 35, estava
apreensivo. "É difícil julgar uma
criança como mais bonita que outra e não sou a favor disso. Acho
que na área dos modelos infantis
há uma pressão muito grande e
temo que ela se decepcione."
Para Fernando Silva Teixeira Filho, professor de psicologia da
Unesp de Assis, o significado da
competição e da derrota depende
do contexto. "No esporte, por
exemplo, a competição pressupõe
uma coletividade, há o treinador,
a equipe, um esforço e uma evolução. Ninguém nasce judoca. No
concurso de beleza, há a satisfação do indivíduo por um dom
com o qual ele nasceu. A criança
ganha o primeiro lugar mas e daí,
o que ela vai fazer com isso?"
Teixeira Filho afirma que a participação de uma criança em um
concurso de beleza deve ser precedida de duas perguntas. Da parte da criança, é preciso saber o
porquê de ela precisar ser avaliada e aceita. Em relação aos pais, o
porquê de eles quererem que os
outros aprovem seu filho. "Muitas vezes, é um desejo narcísico
deles de mostrar que foram capazes de fazer uma criança bonita."
Trabalho
O concurso teve duas ganhadoras, cada uma em uma categoria:
de quatro a sete anos e de oito a 12.
Mas todas as 150 crianças que desfilaram serão chamadas para trabalhar na Best Kids Models.
A psicóloga Isabel Kahn, do núcleo de terapia de casais e família
da PUC-SP, alerta para alguns
problemas que podem surgir
quando uma criança trabalha como modelo, como a preocupação
exagerada com o corpo e o ciúme
entre irmãos. Além disso, deve-se
tomar cuidado para que a criança
não deixe de vivenciar experiências ligadas a outras áreas. "Os
pais devem garantir que a criança
não viva em função da beleza."
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