São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MEDICINA

Técnica desenvolvida por equipe dos EUA usou células dos próprios pacientes para cultivar órgãos e implantá-los depois

Médico reconstrói bexiga em laboratório

DA ASSOCIATED PRESS

Cientistas conseguiram pela primeira vez reconstruir um órgão humano complexo, a bexiga, e reimplantá-lo em sete pacientes usando tecidos vivos cultivados em laboratório. O avanço pode abrir as portas para a regeneração de outros órgãos, como o coração.
Apenas tecidos mais simples -pele, osso e cartilagem- foram cultivados em laboratório no passado. Esta é a primeira vez que um órgão completo foi reconstituído, em sua maior parte com células do próprio paciente.
"Isso sugere que a engenharia de tecidos pode um dia ser a solução para a escassez de órgãos para transplante", disse Anthony Atala, do Instituto Wake Forest de Medicina Regenerativa, nos EUA. Ele é o chefe da equipe que realizou o transplante, cujos resultados são descritos hoje em artigo científico no periódico médico "The Lancet" (thelancet.com).
Os transplantes foram feitos em pacientes de 4 a 19 anos de idade no Hospital da Criança de Boston, EUA. O grupo médico realizou a primeira cirurgia em 1999, mas afirmou querer ter certeza de que o procedimento funcionava em outros pacientes antes de publicar o resultado do teste clínico. Os resultados só foram anunciados depois de a operação ter sido feita nos outros pacientes e de a evolução do último deles transplantado ter sido acompanhada por cerca de dois anos.
"Isso dá a todo mundo nesse ramo a evidência e o incentivo de que eles vinham precisando para dizer que isso pode ser feito", disse Stephen Badylak, da Universidade de Pittsburgh, especialista em engenharia de tecidos.
Mas, mesmo para pacientes com doença de bexiga (no caso dos participantes do estudo, uma enfermidade chamada mielomeningocele, um defeito congênito que causa o enrijecimento da bexiga e o vazamento de urina), a técnica de Atala requer testes mais longos e em um número maior de pessoas.

Molde de colágeno
O grupo de Atala trabalhou com células imaturas conhecidas como progenitoras, extraídas da bexiga dos pacientes. Os cientistas passaram 16 anos procurando um jeito de identificar essas células, separá-las e, então, fazê-las se desenvolver em uma bexiga sobre um molde feito de colágeno.
"É como fazer um bolo em camadas", disse Atala. "Você coloca uma camada de células por vez." As células progenitoras são mais diferenciadas que as células-tronco, mas ainda assim podem originar os principais tipos de célula encontrados na bexiga.
Para as crianças envolvidas no estudo, os transplantes reduziram o vazamento de bexiga -um ganho potencialmente grande de qualidade de vida. Para Kaitlyne McNamara, de 16 anos, o transplante trouxe nova vida social.
Na época da cirurgia, cinco anos atrás, seus rins estavam quase falhando como conseqüência de uma bexiga fraca. Agora, eles voltaram a funcionar e ela não precisa mais usar fraldas.
"Agora meu corpo faz o que eu quero", disse McNamara. "Posso sair e me divertir, sem me preocupar com acidentes."
A tecnologia desenvolvida pelo médico americano foi licenciada para uma empresa, a Tengion, que pretende pedir aprovação do governo para comercializá-la.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Transporte: TJ libera cão-guia sem crachá no metrô
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.