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MEDICINA
Técnica desenvolvida por equipe dos EUA usou células dos próprios pacientes para cultivar órgãos e implantá-los depois
Médico reconstrói bexiga em laboratório
DA ASSOCIATED PRESS
Cientistas conseguiram pela
primeira vez reconstruir um órgão humano complexo, a bexiga,
e reimplantá-lo em sete pacientes
usando tecidos vivos cultivados
em laboratório. O avanço pode
abrir as portas para a regeneração
de outros órgãos, como o coração.
Apenas tecidos mais simples
-pele, osso e cartilagem- foram cultivados em laboratório no
passado. Esta é a primeira vez que
um órgão completo foi reconstituído, em sua maior parte com células do próprio paciente.
"Isso sugere que a engenharia
de tecidos pode um dia ser a solução para a escassez de órgãos para
transplante", disse Anthony Atala, do Instituto Wake Forest de
Medicina Regenerativa, nos EUA.
Ele é o chefe da equipe que realizou o transplante, cujos resultados são descritos hoje em artigo
científico no periódico médico
"The Lancet" (thelancet.com).
Os transplantes foram feitos em
pacientes de 4 a 19 anos de idade
no Hospital da Criança de Boston,
EUA. O grupo médico realizou a
primeira cirurgia em 1999, mas
afirmou querer ter certeza de que
o procedimento funcionava em
outros pacientes antes de publicar
o resultado do teste clínico. Os resultados só foram anunciados depois de a operação ter sido feita
nos outros pacientes e de a evolução do último deles transplantado
ter sido acompanhada por cerca
de dois anos.
"Isso dá a todo mundo nesse ramo a evidência e o incentivo de
que eles vinham precisando para
dizer que isso pode ser feito", disse Stephen Badylak, da Universidade de Pittsburgh, especialista
em engenharia de tecidos.
Mas, mesmo para pacientes
com doença de bexiga (no caso
dos participantes do estudo, uma
enfermidade chamada mielomeningocele, um defeito congênito
que causa o enrijecimento da bexiga e o vazamento de urina), a
técnica de Atala requer testes
mais longos e em um número
maior de pessoas.
Molde de colágeno
O grupo de Atala trabalhou com
células imaturas conhecidas como progenitoras, extraídas da bexiga dos pacientes. Os cientistas
passaram 16 anos procurando um
jeito de identificar essas células,
separá-las e, então, fazê-las se desenvolver em uma bexiga sobre
um molde feito de colágeno.
"É como fazer um bolo em camadas", disse Atala. "Você coloca
uma camada de células por vez."
As células progenitoras são mais
diferenciadas que as células-tronco, mas ainda assim podem originar os principais tipos de célula
encontrados na bexiga.
Para as crianças envolvidas no
estudo, os transplantes reduziram
o vazamento de bexiga -um ganho potencialmente grande de
qualidade de vida. Para Kaitlyne
McNamara, de 16 anos, o transplante trouxe nova vida social.
Na época da cirurgia, cinco anos
atrás, seus rins estavam quase falhando como conseqüência de
uma bexiga fraca. Agora, eles voltaram a funcionar e ela não precisa mais usar fraldas.
"Agora meu corpo faz o que eu
quero", disse McNamara. "Posso
sair e me divertir, sem me preocupar com acidentes."
A tecnologia desenvolvida pelo
médico americano foi licenciada
para uma empresa, a Tengion,
que pretende pedir aprovação do
governo para comercializá-la.
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