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Lula adia negociação e libera prisões em caso de nova greve
Governo só voltará a conversar com controladores se não houver problemas na Páscoa
O governo conta com a divisão dos sargentos e com um plano de emergência caso ocorra uma nova paralisação no feriado
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após recuar no acordo com
os controladores de vôo amotinados na sexta passada, o governo endureceu mais sua posição, disse que só retomará as
negociações se não houver problemas na Páscoa e autorizou a
Aeronáutica a prender os sargentos no caso de nova greve.
Ontem pela manhã, enquanto o ministro do Planejamento,
Paulo Bernardo, se reunia com
líderes da categoria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
disse aos presidentes dos partidos aliados que o comandante
da Aeronáutica, Juniti Saito,
poderá prender os controladores em caso de novo motim.
Na sexta-feira, Lula proibiu
Saito de prender os controladores e nomeou Bernardo (ministro civil) para negociar com os
grevistas, o que desencadeou
uma crise na Aeronáutica.
Na reunião com os partidos,
chamada justamente para tratar da crise aérea, Lula, segundo participantes, afirmou que a
responsabilidade está com a
Aeronáutica e que Saito cuidará de todas as negociações.
No Ministério do Planejamento, na reunião de 40 minutos com os controladores de
vôo, nenhuma reivindicação da
categoria foi atendida.
Na saída, Paulo Bernardo
disse que "o governo vai negociar, mas nós não apenas pedimos como exigimos que haja
condição de absoluta normalidade no funcionamento do sistema". E completou: "Ou seja,
não podemos fazer isso [negociar] com a faca no pescoço."
A intenção é esperar o feriado para avaliar se a categoria
está realmente disposta a normalizar o tráfego aéreo. Só depois seriam retomadas as conversas para a desmilitarização
do serviço -uma das principais
reivindicações da categoria- e
a criação de uma nova secretaria responsável por gerir o tráfego aéreo civil.
"Fica muito difícil negociar e
discutir com constantes ameaças de retomada de movimento, de fazer greve novamente,
de transformar a Páscoa num
inferno. Senti deles uma receptividade boa", disse.
O governo conta ainda com a
divisão dos controladores e um
plano de emergência da Aeronáutica para o caso de nova paralisação. A decisão de retardar
as negociações partiu de Lula,
depois de receber informes de
que líderes dos controladores
estariam prometendo fazer nova greve na Semana Santa.
Irritado, Lula disse se sentir
traído e que não aceitaria mais
chantagens, após ter cedido às
pressões na sexta, quebrando a
hierarquia militar e gerando
uma crise nas Forças Armadas.
Na reunião com o ministro,
os controladores souberam
também que não há mais certeza de que não serão punidos, o
que consideraram uma traição
porque receberam a promessa,
em nota assinada por Paulo
Bernardo no dia da greve, de
que isso não iria acontecer.
"O que garantimos naquela
sexta-feira é que ninguém seria
preso ali e algumas transferências seriam canceladas. Isso foi
cumprido. Depois a Justiça Militar decidiu abrir os inquéritos,
aí não temos condições de interferir", disse Paulo Bernardo.
Esse não é o entendimento
dos controladores, que diante
da abertura dos inquéritos policiais militares vão batalhar por
anistia. O ministro afirmou que
em nenhum momento prometeu anistia aos grevistas. "Anistia só acontece depois que alguém é punido. Até o momento, ninguém foi condenado. E
essa medida tem de ser adotada
pelo Congresso Nacional."
Na sexta-feira, para obter o
compromisso de retomada do
trabalho, Bernardo, além da
não-punição, prometeu o pagamento de uma gratificação e a
desmilitarização do setor.
Na reunião, os controladores
ficaram insatisfeitos com a informação de que a desmilitarização será lenta, que será tocada pelo comandante da Aeronáutica, e que ainda não há definição sobre o valor da gratificação reivindicada.
Segundo o ministro, a transferência para uma secretaria civil precisa ser feita por meio de
projeto de lei complementar.
Após a reunião, os controladores comentaram que o ministro havia sido desautorizado
por Lula. Bernardo não concorda. Diz que a decisão de Lula é
continuar as negociações, desde que haja normalidade. Os
controladores não deram declarações após a reunião.
Bernardo também apresentou uma versão para o rompimento do acordo com os controladores de vôo: "Tivemos
uma situação completamente
atípica e claramente fora de
controle. Fui pra lá com o objetivo de garantir um espírito
mais tranqüilizado. Acho que
conseguimos".
(EDUARDO SCOLESE, PEDRO DIAS LEITE, VALDO CRUZ E IURI DANTAS)
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