São Paulo, sábado, 04 de abril de 2009

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Poluição afasta fiéis de rio onde imagem de santa foi achada

Cada vez menos pessoas se arriscam a beber e a tomar banho no Paraíba do Sul, em Aparecida (SP); cidade despeja todo o esgoto no rio

ONG fala em "caso de saúde pública" e cobra construção de estação de tratamento no município, que receberá 141 mil fiéis na Semana Santa


Caio Guatelli/Folha Imagem
Rio Paraíba do Sul, cuja poluição tem afastado fiéis que tomavam banho e bebiam água no local

CRISTINA MORENO DE CASTRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM APARECIDA

A poluição afastou os fiéis que costumavam tomar banho e beber água do rio onde foi encontrada, quase três séculos atrás, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Em Aparecida (180 km de SP), o Paraíba do Sul recebe dejetos e esgoto sem tratamento de uma população de 36 mil habitantes e dos mais de 100 mil turistas que aparecem nos feriados religiosos.
A cidade do Vale do Paraíba espera receber 141 mil fiéis na Semana Santa. Cada um é responsável por gerar de 20 a 50 litros de esgoto por dia no Santuário Nacional, que conta com quase mil peças sanitárias.
No município, mais de 50 litros por segundo de dejetos são lançados diretamente no rio.
"Não é só uma questão ambiental. É também uma questão de saúde pública", diz Devanir Amâncio, presidente da ONG Educa São Paulo. "Os romeiros que visitam o santuário passam pelo rio, costumam tomar sua água, tomam banho lá, levam a água para fazer alimentos em casa."
Segundo Amâncio, a tradição de captar água no ponto do rio onde a imagem da santa foi encontrada sempre fez parte do percurso turístico dos fiéis. Mas hoje, segundo moradores e pescadores, cada vez menos pessoas se arriscam.
Havia apenas seis moradores no local anteontem. Eles dizem que ninguém mais se banha nas águas poluídas e "só alguns pegam água em garrafinhas".
Em outro ponto do Paraíba do Sul, a 600 metros do santuário, dez moradores pescavam mandis e lambaris -o que restou de um rio que já deu "quilos" de tilápia, piaba e outras espécies de peixes, segundo o ajudante geral Jéferson Jer, 28.
Elenise Conceição, 45, que custava a encher um quinto de seu balde, diz que nos últimos anos o rio se transformou. "Antes era igual praia, dava para nadar aqui."
Ao lado deles, dois canos de esgoto lançavam dejetos da cidade no rio. Os moradores contam que há muitos outros canos pela margem do rio. Mas eles não se importam em comer os peixes "depois de colocar vinagre e limão", conta Jer.
Há 15 dias, a ONG de Amâncio pediu à prefeitura e ao governo do Estado a construção de uma estação de tratamento de esgoto. Segundo ele, não houve resposta. A estação sairá em 2012, diz a prefeitura -a obra está em fase de projeto.
O engenheiro Carlos Ohya, responsável pelos projetos do Santuário Nacional de Aparecida, diz que a igreja "se sente na obrigação moral de participar no sentido de colaborar com o meio ambiente", embora a responsabilidade pelo saneamento seja da prefeitura. Ele diz que o santuário contratou especialistas da USP para colaborar com o projeto da prefeitura.
Para Marli Leite, secretária-executiva do Comitê de Bacias Hidrográficas do Paraíba do Sul, a situação atual, em que diversas cidades do Vale não têm estações -inclusive São José dos Campos, que só trata 45% do esgoto-, "pesa bastante na qualidade do rio".


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