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Planos deixam de pagar R$ 339 milhões ao SUS em 9 anos
Valor representa 71% do montante cobrado pela ANS por clientes de operadoras que usaram a rede pública no período
Em 2008, empresas deixaram de pagar 81% do valor cobrado, ante 59% em 2000; setor move ação no Supremo contra a prática
ANTÔNIO GOIS
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
As operadoras de saúde deixaram de pagar ao SUS (Sistema Único de Saúde), no ano
passado, 81% do que lhes foi cobrado. Em 2000, esse índice era
de 59%. Nesses nove anos,
R$ 339 milhões não foram pagos, o que representa 71% dos
R$ 478 milhões cobrados.
A ANS (Agência Nacional de
Saúde Suplementar) exige ressarcimento das despesas cada
vez que um paciente coberto
por plano de saúde é internado
na rede pública. A cobrança
acontece somente em procedimentos para os quais ele estava
segurado, mas, mesmo assim,
recorreu ao SUS.
Além de não conseguir receber tudo o que foi efetivamente
cobrado, a ANS ainda deixa de
fora desse processo atendimentos ambulatoriais de alta e
média complexidade. A cobrança hoje é feita só a partir
das internações hospitalares.
Essa limitação foi criticada
pelo Tribunal de Contas da
União, que, em uma decisão de
25 de março, estimou em
R$ 2,6 bilhões o valor que deixou de ser cobrado às operadoras entre 2003 e 2007.
A análise feita pela Folha nos
dados da ANS leva em conta
apenas a cobrança de internações hospitalares, mas mostra
que, mesmo nesses casos, a
agência, que regula o setor de
planos de saúde, tem tido dificuldade para conseguir o ressarcimento integral ao SUS.
Em 2008, de R$ 15,6 milhões
cobrados pela ANS, R$ 12,6 milhões não foram pagos.
O pagamento não necessariamente é feito no mesmo ano
da cobrança, já que as empresas podem recorrer, num processo que, após todas as instâncias, dura mais de 18 meses.
Nos últimos dois anos, a situação se agravou por causa de
uma mudança no SUS, que passou a deixar a cargo dos secretários municipais e estaduais
de Saúde o levantamento de informações sobre os pacientes
que utilizam o sistema.
Antes, esse processo era centralizado pelo governo federal,
que repassava os dados para a
ANS para que ela pesquisasse,
em sua base, quais pacientes
utilizaram o SUS.
A mudança fez com que a
agência, já com dificuldade para fazer a cobrança de forma
ágil, ficasse ainda mais engessada. Como resultado, o valor
cobrado em 2006, de R$ 87 milhões, caiu para R$ 67 milhões
em 2007 e para R$ 16 milhões
em 2008, o menor desde 2000.
Os valores efetivamente pagos pelas empresas caíram na
mesma proporção: de R$ 12,6
milhões em 2006 para apenas
R$ 2,6 milhões em 2008.
"Quando houve a descentralização, não se atinou que isso
teria impacto no ressarcimento ao SUS, o que gerou um atraso muito grande na cobrança",
diz Jussara Macedo, gerente-geral de integração com o SUS.
Segundo ela, só dois trimestres de 2007 foram finalizados
até agora; de 2008, apenas um.
Jussara diz que as cobranças
referentes aos trimestres não
finalizados serão feitas.
O valor cobrado das operadoras representa menos de 1%
da receita dessas empresas. Em
2007, o setor movimentou
R$ 51 bilhões, um crescimento
de 132% em relação a 2001.
Não há impedimento para
que um segurado busque o
SUS. Mas, com base na lei
9.656, de 1998, a agência cobra
das operadoras -nunca do
usuário- pelo uso da rede. As
empresas movem ação direta
de inconstitucionalidade, ainda
não julgada, no Supremo Tribunal Federal, contra a prática.
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