São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2007

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Assassino de Liana e Felipe é recapturado

Jovem retornou para a antiga Febem por ordem judicial; governo queria transferi-lo para um presídio de tratamento psiquiátrico

A polícia de São Paulo investiga se funcionários da Fundação Casa -nova denominação da antiga Febem- facilitaram a fuga

KLEBER TOMAZ
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mentor do seqüestro e assassinato do casal de namorados Liana Friedenbach, 16, e Felipe Caffé, 19, foi recapturado ontem de madrugada pela Polícia Militar, 8 horas e 25 minutos após ter fugido do complexo Vila Maria (zona norte de São Paulo) da Fundação Casa -novo nome da antiga Febem.
O rapaz, de 20 anos, retornou para a instituição. Ele foi levado para uma unidade de saúde, segundo ordem judicial.
Ontem, o juiz Trazíbulo José Ferreira da Silva, do Departamento de Infância e Juventude, negou o pedido do governo José Serra (PSDB) de transferi-lo para o Hospital Casa de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Taubaté (130 km de SP).
O governo paulista anunciou ontem que vai recorrer ao TJ (Tribunal de Justiça) para anular essa decisão judicial.
O local é um presídio que abriga detentos (ou seja, que cometeram crimes após os 18 anos) e que estão interditados judicialmente -presos com problemas psiquiátricos.
Seguindo sugestão do Ministério Público, o juiz ordenou que o assassino de Liana fosse levado para uma unidade experimental de saúde da Fundação Casa. "Mesmo tendo o infrator mais de 18 anos, é inadmissível seu encaminhamento à unidade do sistema prisional", escreveu o juiz. Na época do crime, o jovem tinha 16 anos.
Ele foi detido pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) da PM em Ferraz de Vasconcelos (39 km da capital), na casa de uma "tia de criação" de um jovem de 17 anos, acusado de roubo com agressão, que também fugiu com ele.
Os policiais localizaram os rapazes após o assassino de Liana telefonar, por volta das 23h, para a casa de seu irmão, em Embu-Guaçu (Grande São Paulo), para pedir dinheiro.
A Rota estava na casa. O irmão, então, combinou a entrega do dinheiro em Ferraz de Vasconcelos e repassou o endereço para os PMs. Quando os policiais chegaram à casa, às 2h40, os dois fugitivos se mostraram surpresos, mas não mostraram resistência. "Esperavam êxito na fuga", disse o tenente Marcelo Alves, da Rota.

Escada
A fuga da unidade Tietê, onde estão internos que cometeram infrações graves (estupro, assalto com violência e trafico de drogas), ocorreu por volta das 18h15 de anteontem.
Os jovens usaram uma escada - sobre um local onde era armazenado gás-, usada para a reforma do local, para pular o muro de seis metros da unidade -suspeita-se que funcionários facilitaram a fuga dos dois.
"A corregedoria vai apurar se houve dolo, se foi sem querer ou se teve negligência", disse Berenice Gianella, presidente da Fundação Casa. Do lado de fora do muro havia mudas de roupas, segundo a fundação. Anteontem, havia 19 funcionários da unidade Tietê, além do diretor.
O delegado-geral de Polícia de São Paulo, Mário Jordão de Toledo Leme, determinou que a 1ª Delegacia Seccional investigue se houve facilitação da fuga por parte de funcionários na fuga e também se a "tia de criação" do outro jovem e mais quatro pessoas -sendo dois adolescentes- que estavam na casa acobertaram os foragidos.
A morte de Liana ocorreu em 5 de novembro de 2003 numa área rural de Embu-Guaçu. O então jovem de 16 anos estuprou a menina e a matou a facadas (foram 15). Três dias antes, atraíra Felipe para uma emboscada na qual ele foi morto por Paulo Cesar da Silva Marques, o Pernambuco, réu confesso, único que ainda não foi julgado. O casal tinha ido acampar.
A Folha não identifica os jovens em cumprimento ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que veta, inclusive, a divulgação de apelidos de menores infratores. A proibição continua valendo apesar de o assassino de Liana ter hoje mais de 18 anos.
Segundo o promotor da Infância e Juventude Wilson Tafner, a divulgação de qualquer informação que permita a identificação de jovens infratores é passível de punição. "O ECA garante o sigilo. E não é só por ele, é para proteger todos os adolescentes, inclusive os que cometeram delitos leves".


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