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Ator terá de ir à Justiça para fumar em cena
Nova lei antifumo proíbe uso de cigarro, cachimbos e charutos em gravações em estúdios fechados e em peças de teatro
Produção terá de argumentar ao juiz que ausência do fumo prejudicaria a concepção artística do filme, videoclipe, novela ou montagem teatral
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Peças de teatro, gravações de
TV e filmagens de cinema em
lugares fechados também serão
enquadradas pela lei estadual
de restrição ao fumo, que será
sancionada nos próximos dias
pelo governador José Serra.
Para acender um cigarro,
charuto ou cachimbo em cena,
o produtor precisará de autorização judicial. Terá de argumentar, no pedido ao juiz, que a
ausência do tabaco prejudicaria a concepção artística de seu
filme, videoclipe, novela ou
montagem da peça teatral.
Um charuto poderá ser liberado, por exemplo, em um filme sobre Fidel Castro rodado
em estúdio, segundo diz a Secretaria de Estado da Saúde.
Mas, mesmo com a autorização, só o ator poderá fumar. Para o restante da equipe e o público, a proibição do cigarro em
lugares fechados será mantida.
O fumo continua permitido
em cenas ao ar livre, seguindo-se as regras gerais da lei: nos espaços abertos, vale fumar se
não houver toldos ou marquise.
O enquadramento de produção artística nas restrições ao
cigarro constará no decreto que
será publicado após a confirmação da lei. Nele, haverá mais
detalhes sobre onde o consumo
do tabaco será liberado.
Pelo projeto de lei aprovado
pela Assembleia Legislativa, só
será permitido fumar dentro de
casa, na rua ou outros ambientes ao ar livre, em cultos religiosos onde o fumo faça parte do
ritual e em instituições de saúde por pacientes autorizados a
fumar por seus médicos.
Para afinar as regras do decreto, técnicos da secretaria estudaram as restrições ao fumo
em outros países. No caso de
teatros e estúdios, diz o órgão, a
inspiração é o modelo francês.
Interferência
Informados sobre as restrições à produção artística, profissionais de área reclamaram.
"É uma invasão, um grande
exagero. Como é possível montar "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf", por exemplo, sem
cigarro?", diz a atriz e diretora
Grace Gianoukas, criadora do
Terça Insana e de vários personagens fumantes.
A possibilidade de pedir autorização judicial para o fumo
não ameniza as reações negativas. "Essa burocracia só atrapalha o nosso trabalho e pode trazer custo com advogado", diz o
diretor Rodolfo Garcia Vázquez, da peça "Justine", em cartaz no Espaço Satyros Dois. "Na
peça, a personagem Juliette
(vivida por Erika Forlim) é politicamente incorreta, e fuma
cigarrilha, usa casaco de pele",
diz ele, que não fuma.
O dramaturgo Mario Bortolotto diz que não entraria na
Justiça para liberar tabaco em
qualquer uma de suas peças.
"Eu não perderia meu tempo
fazendo isso. Acho ridícula essa
regra. Qualquer tipo de proibição me atrapalharia muito. Não
gosto nem de pensar", diz.
O diretor Maurício Eça, que
assina comerciais e videoclipes
premiados, como o de "Diário
de um Detento", do grupo Racionais MCs, afirma que o fumo
poderá fazer falta em cena. "Estou achando ótimo que a equipe não fume no estúdio, mas
restringir a cena é interferir na
dramaticidade", diz.
Público jovem
Há, entretanto, defensores
da ideia do governo, como a
cardiologista Jaqueline Scholz
Issa, diretora do Programa de
Tratamento de Tabagismo do
InCor (Instituto do Coração).
"A restrição do fumo vai além
de apenas proteger os fumantes passivos." A ideia, ainda de
acordo com a médica, é coibir o
tabagismo de forma geral.
"A fumaça do cigarro de um
ator em cena talvez não incomode quase nada os espectadores, mas a discussão não é essa.
A lei de proibição ao fumo tem
um caráter educativo, especialmente sobre os jovens que estão assistindo à cena."
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