São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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SEGURANÇA

No primeiro trimestre do ano, número de detenções diminuiu 25,6% no Estado; apreensão de armas teve redução de 4,5%

Apesar de megablitze, prisões caem em SP

Sergio Andrade/Folha Imagem - 3.abr.02
Governador Geraldo Alckmin em carro de polícia durante blitze em São Paulo, no início de abril


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de o governo de São Paulo investir em megablitze e grandes operações para combater a violência, as estatísticas da própria Secretaria da Segurança Pública relativas ao primeiro trimestre de 2002 -que incluem dois meses e nove dias da gestão de Saulo de Castro Abreu Filho- revelam queda recorde de apreensão de armas de fogo e de prisões no Estado. São os menores números desde 1998, no caso das armas, e 1997, no caso das prisões.
As apreensões de armas e as prisões são indicadores da atuação da polícia nas ruas. Para especialistas, essa queda revela um problema de planejamento ou, no mínimo, que não houve mudanças no trabalho da polícia, mesmo com as grandes operações.
O governo, por sua vez, afirma que as prisões realizadas recentemente indicam qualificação do trabalho da polícia -seriam mais mais baseadas em mandados judiciais que em flagrantes.
No primeiro trimestre de 2002, a cidade de São Paulo teve 2.942 armas de fogo apreendidas, 14% a menos que no mesmo período do ano anterior e 4% abaixo do resultado dos últimos três meses de 2001 (veja quadro). No Estado, foram apreendidas 9.544 armas no primeiro trimestre desde ano -4,5% a menos que no mesmo período de 2001 e 0,7% abaixo do total do quarto trimestre de 2001. É o menor resultado desde o quarto trimestre de 1998.
As estatísticas de prisões no primeiro trimestre de 2002 se assemelham às registradas em 1997. Na capital, foram 6.015, 20% a menos que no mesmo período do ano passado e 4,3% a menos que no trimestre anterior.
A polícia fez 22.588 prisões no Estado de São Paulo entre janeiro e março deste ano. Esse número é 25,6% inferior ao registrado no mesmo período de 2001 e 7% menor do que o verificado no último trimestre do ano passado.
A queda das prisões e das apreensões no Estado não representa uma redução de criminosos e armas nas ruas. O roubo, crime realizado na maioria da vezes com arma de fogo, apresenta aumento de casos.
Para o coronel da reserva José Vicente da Silva, pesquisador do Instituto Fernand Braudel, os dados estatísticos indicam a redução da atividade operacional rotineira da polícia na rua. Segundo o coronel da reserva, erros de gerenciamento e desmotivação de policiais podem explicar a gradativa queda de produção nos dois itens avaliados.
"Os policiais estão sendo pressionados para cumprir metas, sem discutir um planejamento mais amplo, e isso só provoca mais estresse e desmotivação", disse José Vicente da Silva.
O coronel da reserva é um dos críticos das megablitze e das grandes operações policiais, que se intensificaram com a mudança de comando na Secretaria da Segurança Pública, em janeiro.
"Megablitze não funciona em hipótese alguma. Prendem e apreendem pouco. É mera pirotecnia para ter holofotes", afirmou o pesquisador.
Segundo o coronel, as megablitze fazem revistas a esmo e usam policiais treinados para outras finalidades. "A polícia civil, que está sendo usada nessas operações, foi feita para ir atrás de bandidos específicos e identificados", disse.
Nas operações, já foram usados para revistar bares, por exemplo, policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que foram treinados para investigar casos mais complexos.
Paulo de Mesquita Neto, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo) e secretário-executivo do Instituto São Paulo contra a Violência, afirmou que a diminuição das prisões e das apreensões de armas de fogo mostra que não houve mudanças significativas no trabalho da polícia. "O governo fez parecer que, no passado, a polícia estava parada e que agora não está mais. Mas a mudança não foi tão grande", disse.



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