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MARILENE FELINTO
Campanha pró José Serra irrita
A imprensa do Sudeste faz campanha pró José Serra, candidato do PSDB à Presidência. "Será se é?", perguntaria a mulher sertaneja, no seu bom
português iletrado. "Será se é" significa "será que é?" ou "será que
faz?", assim, ingenuamente. São adoráveis esses sertanejos enfiados lá nas brenhas, em vilarejos de que nunca se ouve falar. São puros como crianças, são a
melhor coisa que o Brasil tem, a melhor das índoles -prontos para serem corrompidos pela politicalha coronelesca do Nordeste, pelos marqueteiros do Sudeste donos de canais de televisão no interior, pela gente que faz TV,
revista e jornal. Vez por outra surge a notícia: sertanejos trabalhando como escravos nas fazendas de senadores, deputados, governadores -como se viu recentemente na fazenda de Inocêncio Oliveira, um dos chefões do PFL,
no sertão de Pernambuco. E ficou tudo por isso mesmo. Inocêncio continua em Brasília, de terno e cabelo engomado.
Voltemos ao cinismo da grande imprensa. Bastar comparar o número de vezes que José Serra aparece nos grandes jornais paulistas e cariocas -e sempre no alto das páginas nobres. Mas é claro que a mulher do sertão não lê jornal; e é
claro que o leitor leigo não sabe o que é página nobre ou alto de página. É claro também (antes que eu me esqueça) que tomei a frase "José Serra irrita" emprestada do povo, que já transformou em piada o conchavo entre Serra e a deputada federal Rita Camata (PMDB), candidata a vice: "Serra
e Rita", ou seja "Serra irrita"
-"rá rá rá", como diria o genial
José Simão.
Semana passada, um tal instituto Sensus de pesquisa dava Lula em primeiro lugar, com mais
de 40% das intenções de voto, e
José Serra caído para o terceiro,
tendo sido ultrapassado por Garotinho. A imprensa do Sudeste
não apenas ignorou esse resultado como fez questão de ridicularizar o tal Sensus.
Para se vingar, o PSDB de Serra
encomendou outra pesquisa, ao
Vox Populi. Não deu outra. Serra
em "segundo lugar isolado", dizia
um dos grandes jornais do Sudeste domingo, jogando Lula para o
final da notícia: "Serra sobe em
pesquisa, vai a 20% e assume com
folga segundo lugar. Pesquisa (...)
divulgada ontem mostra que o
candidato a presidente José Serra
passou de 16% para 20% das intenções de voto e está em segundo
lugar isolado. Garotinho está com
13%, em terceiro. Lula continua
em primeiro, com 40%, mas perdeu dois pontos percentuais".
Depois vêm os pseudocríticos de
jornal -verdadeiros "cães de
guarda" do status quo, que mal
disfarçam sua preferência pelo
patrão e pelo governo- apontar
o dedo para quem não compactua com o conluio da mídia pró
José Serra.
Outro jornal da região deu destaque a Serra e Rita tocando e
dançando samba, em evento demagogo, para comover trouxa:
"Na noite de sábado, Serra e Rita
foram a uma roda de samba (...)
em Vitória (...). Serra tocou pandeiro e tantã (...). Rita chorou (...)
quando lembrou que estava entre
amigos e parentes: "esse é um pedacinho do Brasil onde as famílias trabalham, preservam sua
cultura e acreditam que vão vencer" disse, chorando"!
O mesmo texto citava uma pérola do blablablá, que teria sido
proferida por José Serra ao comunicar que pretende criar um "Ministério da Segurança Pública":
"os altos índices de criminalidade
em Vitória não se devem a problemas sociais, mas ao crime organizado". Ora! Desde quando o
crime organizado deixou de ser
um problema social? Ou José Serra acha que está falando para um
povo tantã mesmo? Voz do Povo
Tantã é o nome do instituto a que
o PSDB vai encomendar a próxima pesquisa de intenção de voto.
Vai dar Serra, na cabeça e no alto.
E-mail - mfelinto@uol.com.br
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