São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2008

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Em SP, 19 são presos em ação contra venda de habilitação

Juarez Pereira Campos, delegado da Polícia Civil de SP, foi apontado como chefe do esquema

Cada carteira de motorista era negociada por valores entre R$ 1.300 e R$ 1.800; uma médica e 2 psicólogas estão entre os detidos

Raimundo Paccó/Folha Imagem
Policial em operação na qual 19 pessoas foram presas por venda de carteira de habilitação; documento chegava a custar até R$ 1.800

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma megaoperação ontem prendeu 19 pessoas acusadas de pertencer a uma quadrilha chefiada por um delegado e especializada em vender carteiras falsas de motoristas.
Segundo a investigação, por dois anos os suspeitos venderam cerca de 1.300 CNHs (carteira nacional de habilitação) por preços que variavam de R$ 1.300 a R$ 1.800. Entre os que compraram o documento estão um homem analfabeto e outro com deficiência no pé -que acabou se envolvendo em um acidente em 2007.
Batizada de "Operação Carta Branca", a ação envolveu promotores do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para Prevenção e Repressão ao Crime Organizado), o Ministério Público de Guarulhos e o Núcleo de Operações Especiais da PRF (Polícia Rodoviária Federal). Segundo as investigações, a Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito) de Ferraz de Vasconcelos (Grande SP) era a base da quadrilha.
Durante vários meses, as 19 pessoas presas ontem tiveram conversas telefônicas gravadas com autorização da Justiça. As prisões de ontem são temporárias e têm prazo de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco.
"Era sempre gente que não tinha condições de dirigir e, por esse motivo, comprava a carteira", disse o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira.
Ontem, durante a operação, pelo menos cinco interessados em comprar o documento ligaram para o escritório do despachante José Antonio Gregório da Silva, um dos presos. Quem comprou a carta pode responder por crime de corrupção.
O esquema era chefiado, conforme a apuração, pelo delegado da Polícia Civil Juarez Pereira Campos, que deixou o cargo de chefe da Ciretran de Ferraz há duas semanas e era ajudado por sua mulher, Ana Lúcia Máximo Campos, dona de duas auto-escolas onde ocorriam as vendas das carteiras.
Os documentos, computadores e CDs apreendidos pelos 160 policiais rodoviários federais e 20 promotores que participaram da ação lotaram duas salas da Corregedoria da Polícia Civil de SP. As carteiras falsas eram vendidas para interessados de todo o país.
Também foram realizadas buscas e apreensões em 34 locais -auto-escolas, clínicas médicas e até na Ciretran de Ferraz de Vasconcelos.
Um investigador de polícia, uma médica e duas psicólogas estão entre os 19 presos, além de Omar Latife Abdel Hadi Ibrahim, suspeito de manter um posto de combustível onde o dinheiro era lavado.

Poucas digitais
A principal fraude descoberta pelos promotores e pela PRF era feita pela quadrilha contra o sistema de computação utilizado pelo Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito), o Sistema de Gerenciamento Eletrônico de Formação de Condutores, o Gefor.
Para burlar o sistema, que exige que o candidato a motorista deixe sua impressão digital em diversas fases de avaliação, a quadrilha usava as digitais de outras pessoas e até mesmo de dedos postiços.
Os promotores conseguiram um relatório da Prodesp (Companhia de Processamento de Dados de SP) que apontou que a quadrilha usou apenas 64 impressões digitais para emitir 1.305 habilitações.
O documento detalha que uma única impressão digital aparece na avaliação de mais de 150 "condutores".
O levantamento apontou que, nos últimos dois anos, a Auto Escola Radar emitiu 893 carteiras falsas e a Auto Moto Escola Elluz Ltda, 109.

Investigação
A investigação começou em maio de 2007, quando o Núcleo de Inteligência da Polícia Rodoviária Federal de Mato Grosso do Sul descobriu que vários motoristas -incluindo alguns que se envolveram em acidentes nas proximidades de Campo Grande, capital do Estado, e Dourados- tinham tirado a carteira de habilitação em Ferraz de Vasconcelos.


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