São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2008

Texto Anterior | Índice

NICIA PASSOS FONSECA (1914-2008)

A experiência da "dama" pelos pobres

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma frase do escritor Pedro Nava, adotada por Nicia Fonseca, dizia que a experiência é um farol que só ilumina para trás; à frente, tudo continua escuro. Por isso ela insistia no asilo e na creche. "Houvesse pobreza", se metia. E sempre que surgia a hora, derramava a precisa gota de sabedoria -uma das citações do caderno onde copiava as "coisas bonitas" que lia.
Os atentos olhos verdes cuidaram de crianças desde que fora lecionar no Grupo Escolar Rodrigues Alves, no número 227 da av. Paulista. Contava Nicia, orgulhosa, que ensinara pequenos húngaros e poloneses, refugiados no Brasil por causa do avanço soviético dos anos 50.
"Sempre de batonzinho", a aposentada vivia então na Associação das Damas da Caridade São Vicente de Paulo. Lá foi tesoureira e presidente, cuidou de creches, asilos e escolas, dando roupas, comida e remédios conseguidos com festas e rifas. "O espírito vicentino habitava nela."
"Católica apostólica romana" sempre foi, desde que nasceu em Atibaia, filha de "coronéis do café" da família Alvim. O nome, perdeu ao casar-se com um ex-soldado da Revolução Constitucionalista de 1932 -ela que, conta a filha, fugia com as amigas do colégio de freiras para passear e namorar os soldados.
Por isso os dois filhos, cinco netos e cinco bisnetos perderam o sobrenome da "família quatrocentona". Ela não teve outro. Viúva aos 34, "não quis mais casar de jeito nenhum". Morreu no dia 26, de falência múltipla dos órgãos, aos 94 anos.


Texto Anterior: Mortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.