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Na pré-parada, plateia assiste ao "nascimento" de drag queen
DE SÃO PAULO
Diante de uma plateia de
15 pessoas, o professor ensina, com toda a didática, os
passos necessários para
transformar um homem numa drag queen.
Ele usa um modelo, que
masca chiclete sentado numa cadeira, para aplicar a
teoria à prática. Suas mãos
pouco a pouco dão forma feminina ao rapaz -maquiagem, cílios, batom, peitos,
vestido, salto alto e peruca.
Parte dos alunos está atenta. Fazem anotações ou levantam o dedo para perguntar o tom da maquiagem. Alguns fazem biquinho, com
espelhos na mão, enquanto
pintam os próprios olhos.
Outra parte não está tão
atenta. Dos pés à cabeça, o
professor os distrai: a farta
peruca loira oxigenada, o
vestido tomara que caia terminando no meio da coxa, os
sapatos reluzentes, os exagerados cílios que a cada piscada parecem mais robustos...
"Gente, agora eu preciso
"glitterizar" o olhar do César
[o modelo], dar aquela iluminada", ensina Ailton de Almeida, que vestido de drag
queen só atende pelo codinome Sissi Girl.
Ajudada por outras drag
queens, Sissi Girl deu essa
palestra ontem, numa tenda
montada no Vale do Anhangabaú (centro de São Paulo).
A aula "linha de montagem"
-quando se fantasia, a drag
queen diz que "se monta"-
foi uma das atividades preparatórias da multitudinária
parada gay de São Paulo,
marcada para este domingo.
Lully Cow, uma das ajudantes, pede a palavra e explica que aquele glitter não é
o mesmo usado nas fantasias
do Carnaval. "Pelo amor de
Deus, gente, isso aqui é maquiagem. O glitter do Carnaval é vidro moído. Cuidado!"
Depois, ensina que uma
forma barata de fazer peitos
postiços é encher duas
meias-calças com alpiste e
vestir o sutiã.
Assim que põe uma peruca
vermelha cheia de cachinhos
no modelo, Sissi Girl anuncia
em tom de vitória: "Gente,
aqui está o nascimento de
uma drag queen". A plateia
bate palmas e solta gritinhos.
(RICARDO WESTIN)
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