São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2010

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ANÁLISE TRANSPORTES

Reforma do sistema de ônibus preocupa

Baixar custos é importante, mas objetivos principais deveriam ser mais ambiciosos e socialmente impactantes


É PRECISO REDUZIR A UTILIZAÇÃO INADEQUADA DO AUTOMÓVEL EM SÃO PAULO E PROMOVER O USO DO TRANSPORTE PÚBLICO

EDUARDO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Prefeitura de SP anunciou a reorganização do sistema de ônibus. É uma boa notícia, mas, se o principal objetivo anunciado é a redução de custos, com "subsídio zero", isso é preocupante.
Embora devamos sempre buscar a otimização dos recursos, a prioridade a esse objetivo revela uma visão liberal extremada de "eficiência econômica obrigatória".
Os objetivos principais deveriam ser mais ambiciosos e socialmente impactantes, para fazer jus à importância estrutural dos ônibus na cidade: reorganizar todo o sistema para elevar a sua qualidade, confiabilidade e rapidez, permitindo que se torne um patrimônio da cidade.
O sistema de ônibus tem problemas crônicos de irregularidade e lentidão, que reduzem a sua atratividade e causam um sobrepreço de cerca de 20% na tarifa.
A primeira causa desses problemas é a falta de gestão direta e permanente da operação dos ônibus nas vias.
Já temos uma das operações de trânsito mais aparelhadas e atuantes do mundo, mas que sempre privilegiou o motorista de automóvel.
Não nos falta nada para termos uma excelente operação do sistema de ônibus, garantindo confiabilidade e rapidez, com velocidades entre 18 e 20 km/h nas linhas comuns e 25 km/h em linhas semiexpressas. Então por que ela não acontece?
O segundo motivo da lentidão é a grande quantidade de automóveis que usam as vias principais, ocupando 85% do espaço para transportar um terço das pessoas transportadas pelos ônibus.
É preciso abrir espaço para o sistema de ônibus operar adequadamente. Isso requer o combate a preconceitos históricos em relação aos ônibus como "o vilão": ao justificar por que o total de ônibus não aumentará, o secretário dos Transportes disse que "até porque aumentando impacta o trânsito".
O que dizer então sobre o impacto causado pelos milhares de automóveis novos que entram no sistema viário todos os dias? Por que insistir que o sistema de ônibus "se pague" a qualquer preço se o "sistema do automóvel", que polui mais, gera mais acidentes e consome grandes quantidades de espaço viário escasso e caro, não precisa pagar pelos custos que causa?
O importante é verificar o balanço entre custos e benefícios, que certamente favorece o transporte público.
O trânsito na cidade está no limite. É preciso reduzir o uso inadequado do automóvel e promover o uso do transporte público, adotando medidas de impacto.


EDUARDO A. VASCONCELLOS , engenheiro e sociólogo, é consultor de transporte e diretor do Instituto Movimento.


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