São Paulo, quinta, 4 de junho de 1998

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Casal pede indenização por causa de falha de preservativo

AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires

A Justiça argentina analisa pedido de indenização feito por casal que alega ter um filho com suspeita de Aids por causa de falha em fabricação de preservativo.
Ricardo, 36, e Mariela, 26, -que preferiram não divulgar os seus sobrenomes- afirmaram que o preservativo da marca Prime rompeu quando eles mantinham relações sexuais em julho do ano passado.
Mariela é portadora do HIV. Ricardo não sofreu contágio, mas depois do rompimento do preservativo a mulher ficou grávida.
A criança nasceu no final de abril. Segundo Ricardo, o bebê está sob cuidado especial para que os médicos se certifiquem se ele é ou não portador do vírus HIV.
"Estamos casados há três anos e temos todos os cuidados médicos e preventivos. Depois da gravidez, Mariela passou a tomar o coquetel (anti-Aids). Isso destruiu nossa vida. Estamos com medo de fazer sexo", disse Ricardo.
Defeito de fabricação
O preservativo que rompeu, segundo advogados de Ricardo, pertence a um dos lotes que a indústria norte-americana Ansell, responsável pela fabricação da marca Prime, Life Style e Contempo, retirou voluntariamente do mercado, em outubro do ano passado, por defeito de fabricação.
Ao todo, segundo o FDA (sigla em inglês para o órgão norte-americano que fiscaliza a produção de alimentos e medicamentos), foram 57 milhões de preservativos que poderiam se romper ou vazar por falha de fabricação, com data de vencimento entre outubro de 97 e o ano 2000.
Extorsão
A diretoria da Buhl, distribuidora dos preservativos na Argentina, afirmou que só vai dar explicações sobre o caso à Justiça.
Segundo publicidade divulgada nos principais jornais argentinos, a empresa alega que esses preservativos retirados não chegaram a ser comercializados. Os preservativos também não teriam sido vendidos inclusive no mercado argentino, de acordo com parecer do Ministério da Saúde do país.
A diretoria da Buhl acusa o casal de tentativa de extorsão. Segundo a empresa, o casal estaria querendo se promover e conseguir dinheiro com o processo.
Doação à pesquisa
Ricardo e Mariela pedem da Buhl e da Ansell uma indenização de US$ 90 milhões. Segundo eles, 90% da quantia será doada a instituições que tentam descobrir uma vacina para a Aids. Eles também defendem a prisão dos responsáveis.
"O que nos dizem é que devemos nos proteger da Aids com preservativos. O que ocorre quando não podemos confiar na única coisa em que devíamos confiar? Isso poderia ter acontecido com qualquer um", afirmou Ricardo.
Ele disse que o casal não cogitou a hipótese de realizar aborto. "Somos cristãos e, além disso, minha mulher não quis correr o risco de fazer um aborto sendo portadora de HIV", completou.



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