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ARTE CONTEMPORÂNEA
Vendedora achou que obra era golpe
Instalação provoca mal-entendido e artista plástica é detida em SP
LUCIANA PAREJA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Arte contemporânea nem sempre é bem-compreendida. A artista plástica Ana Teixeira, 47, por
exemplo, foi parar no 5º DP ontem à tarde, quando fazia uma intervenção pública na feirinha do
Bexiga (região central de São Paulo), realizada semanalmente numa praça na rua Treze de Maio.
Na sua bancada móvel, identificada com o nome do trabalho,
"Outra Identidade", a artista fazia
réplicas de carteiras de identidade, nas quais o "identificado" pode escolher uma entre dez frases,
como "ainda tenho tempo" e
"não tenho certezas", para ser carimbada no papel, no lugar em
que normalmente figura o nome e
o número do registro geral.
"A idéia é identificar a pessoa
não pelo nome ou por um número, mas por frases que exprimam
um pouco do que ela é", diz Teixeira, que já havia realizado a ação
outras vezes.
As pessoas levam para casa a
"outra identidade" e deixam a impressão digital do polegar gravada
em um caderninho, que a artista
expõe posteriormente como resultado de seu trabalho. A confusão começou aí.
"Uma senhora que trabalha na
feirinha não quis fazer a identidade e começou a dizer que o pessoal era louco de colocar a digital
no caderno, que eles não sabiam
que uso eu faria daquilo", diz Teixeira. Não é feita identificação do
dono da impressão digital no caderno, só há a marca de vários polegares indistintos e a inscrição
"Outra Identidade" na capa.
As pessoas, temendo serem vítimas de um golpe, reclamaram no
posto da Guarda Civil Municipal
instalado na praça, segundo a artista, que foi levada ao 5º Distrito
Policial para averiguação.
"Não houve crime, foi só um
mal-entendido, é um trabalho de
finalidade artística perfeitamente
plausível", explica o delegado do
5º DP João Achem Jr. Tanto que
Teixeira foi liberada em cerca de
15 minutos.
"O que me impressionou foi a
lógica do capital que rege a cabeça
das pessoas. Todo mundo ficava
me perguntando como eu estava
fazendo aquilo sem ganhar nada,
sem pedir pagamento. Alguém
disse que, se pelo menos eu fosse
patrocinada por alguma grande
empresa, poderia acreditar em
mim, mas como eu não visava nenhum lucro, devia estar com "armação'", afirma Teixeira.
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