São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2007

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Empresas aéreas e governo entram em atrito

Elas não aceitam reduzir concentração de vôos em horários de pico nem as horas de uso de cada aeronave como saída para a crise aérea

Geraldo Vieira, advogado do sindicato das empresas, diz que, caso ocorram mudanças, o consumidor pode ser obrigado a pagar a conta

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

No quinto dia seguido de atrasos em vôos por todo o país, desta vez provocados por um nevoeiro que fechou o aeroporto de Cumbica (Guarulhos) por seis horas, as empresas aéreas brasileiras mostraram ontem que não pretendem reduzir a concentração de vôos em horários de pico nem as horas de uso de cada aeronave como alternativa para solucionar a rotina de caos nos aeroportos.
Em reunião com diretores da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e representantes do comando da Aeronáutica, as empresas alegaram que fizeram investimentos nos últimos anos para atender o crescimento da demanda, mas que o governo não fez os aportes necessários em infra-estrutura para garantir o atendimento.
Estiveram presentes representantes da TAM, Gol, Ocean Air, BRA e Varig. Nenhum deles quis dar declarações. A Anac também não quis falar.
Segundo o relato de participantes da reunião, um representante de companhia aérea afirmou que o setor trabalha com índices de eficiência e não de ineficiência. A agência tem sido pressionada a reestruturar a malha aérea, o que significaria, por exemplo, reduzir a concentração de vôos em horários de pico nos aeroportos mais disputados do país, especificamente os de São Paulo.
O presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, já havia afirmado, na segunda-feira, que o país é "grande demais para ter uma malha como essa".
A frase é uma referência à estrutura de vôos adotada pelas companhias, que aumentaram as horas de utilização de cada aeronave e operam diversos trechos em seqüência. Quando ocorre atraso em um trecho, isso afeta todo o percurso com um efeito em cascata.
A mudança na forma de utilização das aeronaves é resultado de um cenário de maior concorrência e busca por redução de custos. Desde 1999, mais de 40 aeroportos do país deixaram de ser servidos por vôos regulares. Os 15 principais aeroportos concentram 73% dos vôos.
A Anac é o órgão regulador do setor. O argumento das companhias é que, apesar disso, a agência não tem o direito de impor uma mudança na estrutura de vôos.
"A lei nš 11.182 de 2005, de criação da Anac, assegura que as empresas têm liberdade de voar para qualquer lugar, com ressalvas para a capacidade operacional de cada aeroporto e para as normas de prestação de serviço expedidas pela agência", diz Geraldo Vieira, advogado do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias).
Segundo Vieira, caso prevaleça a posição de mudar a estrutura de vôos das companhias, o consumidor pode ser obrigado a pagar a conta. "Se o governo determinar que os aviões devem voar cinco horas por dia em vez 14, a conseqüência é que vai ter avião parado e o preço da passagem vai quintuplicar."
A lei de criação da Anac permite que as empresas concessionárias explorem quaisquer linhas aéreas, desde que sigam normas regulamentadas de prestação de serviço definidas pela agência. Num cenário de discordância entre as companhias e o órgão regulador, a Anac pode criar novas normas de prestação de serviços de modo a pressionar as empresas.
A Anac divulgou nota em que afirma que a reunião tratou do melhor atendimento com informações ao usuário e de uma parceria entre a Anac e as companhias para identificar e superar os gargalos operacionais na infra-estrutura dos aeroportos.


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