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Pagos para brincar
Crianças são chamadas para testar, dar palpites e aperfeiçoar brinquedos antes de eles irem para as lojas; em troca, ganham de graça a peça avaliada
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE SÃO PAULO
Não é Natal nem o aniversário, e também não é o Dia
das Crianças, mas o quarto
do menino Pedro Barbério, 9,
está cheio de presentes.
Para alegria dos pais, aquilo tudo não custou nada.
Há dois anos, Pedro assumiu um trabalho que a maioria das crianças sonharia em
ter. Entre as provas da escola
e as lições de casa, ele é um
testador de brinquedos.
Antes do lançamento nas
lojas, Pedro recebe tudo
quanto é jogo, carrinho de
corrida e de controle remoto,
numa espécie de teste de
campo do fabricante.
O pagamento é em brinquedos -os que testou e outros em linha. Depois de avaliar os produtos e apontar os
defeitos, ele tem de devolver
os brinquedos à fábrica e,
quando chegam ao mercado,
recebe um como gratificação.
Entre os problemas já
apontados por Pedro, testador oficial do Autorama, da
Estrela, está a velocidade,
que ele considerou baixa para carrinhos de corrida.
Na versão Stock Car, recém-lançada, a aceleração
foi aumentada para dar mais
realidade à brincadeira.
SONHO DE VIDA
O trabalho de brincar é a
coisa mais prazerosa da vida
da menina Beatriz, 11, testadora da boneca Susi e dos jogos de tabuleiro, como o Banco Imobiliário, há dois anos.
Se pudesse, ela largaria tudo para se dedicar à avaliação dos brinquedos. Antes
uma garota tímida, a atividade, dizem os pais, ajudou na
socialização com outras
crianças e gerou segurança.
"Tenho vontade de fazer
só isso, mas minha mãe não
deixa. Diz que primeiro tenho de estudar e só se eu não
tiver prova é que posso brincar", afirma Beatriz.
"No início fiquei preocupada que criasse uma vaidade. Não deixamos que ela se
sinta melhor por causa disso,
não é a coisa mais importante da vida", diz Fátima Bíscaro, mãe de Beatriz.
Em dois tempos, a Estrela
mudou o corte de cabelo, as
roupas e os acessórios da boneca Susi, que Beatriz não
havia gostado. O trabalho de
avaliação dura 1 hora e meia.
As mães têm de controlar
com pulso firme. Em semana
de prova, o trabalho de brincar é adiado. Compromissos
com aulas de natação, piano
e inglês não podem ser sacrificados pela brincadeira.
"Não sei como ela encara
essa responsabilidade. A
criança não sabe avaliar isso
em função dos outros, só de
si mesma. Vender brinquedo
e fabricá-los é coisa do mundo adulto", diz a psicóloga
Rosely Sayão, autora de "Como Educar Meu Filho?"
"Temos grupos de crianças que convocamos de acordo com a necessidade", diz
Carlos Tilkian, diretor-presidente da Estrela.
Antes de chegar às crianças avaliadoras, os brinquedos passam por ensaios físicos e químicos para avaliar
alguma possível contaminação por metais pesados e se
suportam peso, queda e compressão, por exemplo.
"O objetivo é analisar o risco físico para a criança", diz o
químico Adalcir Lago, chefe
do laboratório de segurança
do produto da Estrela.
A sorte de Pedro e de Beatriz não está para todos. As
crianças são escolhidas pelo
fabricante em seleções aleatórias nas escolas de acordo
com o perfil de mercado.
Folha.com
Veja como funciona uma
fábrica de brinquedos
folha.com.br/mm757388
Veja fotos de brinquedos
históricos feitos no Brasil
folha.com.br/ct757394
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