São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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SAÚDE

Pesquisa mostra que praticar atividades físicas ajuda a retardar o aparecimento de problemas associados ao envelhecimento

Exercícios melhoram a vida de idosos

BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Praticar exercícios físicos regularmente pode ser uma alternativa não-medicamentosa para melhorar a memória e ajudar a retardar o aparecimento de problemas associados ao envelhecimento. A conclusão é de uma pesquisa do Centro de Estudo em Psicobiologia e Exercício da Escola Paulista de Medicina da Unifesp.
O estudo foi feito com 50 homens sedentários, de 60 a 75 anos, considerados saudáveis. Metade deles passou a praticar atividade física, por períodos de uma hora, três vezes por semana -os demais mantiveram suas atividades normais. Uma bateria de exames foi feita antes e após seis meses, e os resultados foram comparados.
Testes físicos e neuropsicológicos mostraram que houve aumento da capacidade funcional dos indivíduos, o que significa mais autonomia e independência.
Após participar do programa, os voluntários apresentaram melhora em funções cognitivas como a memória, o que indicaria recuperação ou retardamento de processos degenerativos do cérebro. Além de benefícios como diminuição da pressão arterial e melhora do desempenho cardíaco, foram descritos ganhos no humor, na auto-estima e na qualidade do sono. Levando em consideração vários fatores de risco de problemas cardiovasculares, os resultados mostraram ainda uma diminuição média de 35% no risco de infarto.
"A surpresa foi que a idade não representou um obstáculo", disse a educadora física Hanna Karen, responsável pela pesquisa.
Segundo ela, para a verificação das mudanças, a idade não foi um fator determinante, como se costuma pensar, mas a velocidade dos ganhos variou de acordo com o tempo de sedentarismo.
"Eu tinha me tornado dependente de um caderninho de anotações, mas voltei a ser uma pessoa normal", conta o engenheiro civil Fábio Pardini, 67, que há cerca de dois anos começou a ter esquecimentos que passaram a atrapalhar o seu trabalho. Ele diz que acabou decidindo participar da pesquisa da Unifesp justamente por ter aversão a neurologistas e psicólogos.
"Foi muito bom não ter de tomar remédio, por isso me entusiasmei. Agora que aprendi a fazer, não vou deixar cair a peteca." Pardini faz exercícios de alongamento e pedala três vezes por semana por cerca de meia hora na bicicleta ergométrica.
Com o envelhecimento, há uma diminuição da capacidade motora, do equilíbrio e dos reflexos. Dos 30 aos 70, a perda de massa muscular chega a cerca de 40%.
"A atividade física regular pode compensar isso e ainda ajudar a controlar ou a prevenir doenças como osteoporose, hipertensão, obesidade, depressão e diabetes", afirma o geriatra Carlos André Freitas dos Santos. O ideal seria a prática do exercício em grupo, o que ajuda a diminuir o tempo em que a pessoa fica sozinha.
De acordo com Wilson Sanvito, professor de neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, não há dúvidas de que o exercício melhora a irrigação e a oxigenação do cérebro e libera neurotransmissores (substâncias responsáveis pelo funcionamento harmônico do cérebro), como a endorfina, dando sensação de bem-estar e melhorando o humor.
No idoso, a plasticidade cerebral (capacidade de incorporar novas conexões entre os neurônios) é menor. "O exercício não forma novos neurônios, mas pode enriquecer as conexões entre eles", diz Sanvito.
Para o neurologista, a melhora da memória com o exercício é um fato provável, mas necessita de comprovação mais apurada.
"Um programa de atividade física, mesmo quando iniciado após os 60, tem efeitos positivos nas variáveis biológicas e psicológicas do indivíduo", afirma a médica esportiva Sandra Matsudo, assessora científica do programa Agita São Paulo.
Segundo ela, não é possível falar em interromper o processo de envelhecimento, mas não é difícil diminuir as perdas e manter as habilidades por mais tempo.
"Com o tempo, o idoso vai perdendo a qualidade de movimento. Isso reflete diretamente na qualidade de vida. Se ele não consegue nem amarrar o sapato, precisa que alguém faça para ele", diz a educadora física responsável pela pesquisa.

Descompromisso
Uma das grandes vantagens da atividade física praticada pelo idoso é o descompromisso com a estética, dizem os especialistas.
"A ginástica não é mais para ter o corpo bonito. Sem o compromisso da estética, pode ser uma prática bem mais gostosa", afirma a presidente do Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Envelhecimento da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), Alice Moreira Derntl.
Para o cardiologista Abrão José Cury Júnior, presidente da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, sempre há uma atividade que pode ser feita -mesmo para quem tem problemas de saúde. A questão estaria em descobrir, com a ajuda do médico, qual a atividade adequada. "O exercício é ótimo para o idoso. Mas, antes de começar, é importante passar por uma criteriosa avaliação médica", afirma.


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