São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENTREVISTA

Violência doméstica é "mãe" da crise social

DA REPORTAGEM LOCAL

Casos como o da babá que foi flagrada espancando três crianças em Aparecida de Goiânia (GO) são comuns no país. As agressões são a principal causa externa de mortalidade na faixa etária de cinco a 19 anos no Brasil. Representam cerca de 23% de todas as mortes de crianças e adolescentes nessa faixa de idade, segundo dados do Ministério da Saúde.
Para a pediatra Rachel Niskier Sanchez, coordenadora-executiva da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes e Violência na Infância e Adolescência -criada há quatro anos pela Sociedade Brasileira de Pediatria- e conselheira titular do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), a violência doméstica potencializa a violência social e ocorre de forma velada entre os mais ricos.

Folha - Por que a sociedade assumiu essa causa?
Rachel Niskier Sanchez -
Achamos que era preciso fazer algo. Somos hoje 35 mil pediatras. É como se funcionássemos como uma encruzilhada pela qual passam praticamente todos os casos. Em algum momento, a vítima de maus-tratos procura um serviço de saúde e, sendo criança ou adolescente, é atendida pelo pediatra.

Folha - Qual o papel do pediatra na identificação do problema?
Rachel -
A primeira coisa a fazer é reconhecer o caso. Para isso, ele tem que estar capacitado e informado, é como se fosse uma doença que ele tem que conhecer os sinais e os sintomas. Cabe ao pediatra reconhecer o caso através de uma boa história clínica e um exame físico apurado. Ele trata os sinais que aparecem, se for o caso de violência física. Orienta ou encaminha para um psicólogo ou psiquiatra, se for um caso de violência psicológica. Se for um caso de negligência, pode encaminhar o caso para o assistente social. Ao mesmo tempo, faz a notificação ao Conselho Tutelar da sua cidade ou a outra instância. Tem obrigação de fazer isso, pois pode ser penalizado por se omitir. Depois, deve continuar acompanhando o caso. Não fazer isso é como encaminhar um doente de pneumonia para raio-x e depois dizer tchau.

Folha - A violência doméstica é o problema mais sério?
Rachel -
Sim. Faço visitas no Brasil inteiro a instituições como a Febem. Sempre pergunto aos adolescentes por que eles acabaram cometendo um ato em conflito com a lei. Todos até hoje, sem exceção, disseram que saíram de casa para fugir da violência. A violência doméstica potencializa a violência social. É um problema generalizado, não tem classe social. A diferença é que as classes mais abastadas podem procurar um consultório particular e a agressão acaba não indo pra estatística. Os que não têm recursos procuram mais os equipamentos públicos. O que existe é maior ou menor visibilidade. (BL)


Texto Anterior: Agenda
Próximo Texto: Vestibular: Fuvest começa a vender manual do candidato amanhã
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.