UOL


São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

Próximo Texto | Índice

AMBIENTE

Percentual é de reservatórios em que a qualidade foi avaliada como ruim e péssima para abastecimento em SP

Água é imprópria em 27% dos rios e represas

ANA PAULA MARGARIDO
DAS REGIONAIS

A qualidade da água para abastecimento público é imprópria em 27% dos rios e reservatórios existentes no Estado de São Paulo. O índice corresponde aos classificados como ruins ou péssimos.
A avaliação está no Relatório de Qualidade das Águas Interiores do Estado 2002, concluído em julho pela Cetesb (agência ambiental paulista). Pela primeira vez, o estudo inclui índices de qualidade da água para abastecimento e para preservação da vida aquática, que tem 46% de rios classificados como ruins ou péssimos.
Tais índices, avaliados separadamente, fornecem, segundo a Cetesb, um quadro mais amplo da situação das 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Ugrhis) do Estado.
O problema, tanto para o abastecimento como para o meio aquático, é recorrente: lançamento de esgoto nos rios e seus afluentes. Conforme pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 60% dos 5 milhões de toneladas diárias de esgoto coletados em todo o Estado de São Paulo são despejados nos rios sem tratamento. Somados a isso estão o mau uso da água e a ocupação desordenada do solo.
Isso porque quanto menor o volume de água nos rios menores são as chances de dispersão da carga poluidora e maiores as possibilidades de desenvolvimento de algas e bactérias em seus leitos.
As regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Sorocaba são as mais comprometidas, devido ao aglomerado urbano e à intensa industrialização.
Em todo o Estado, as únicas regiões que só apresentaram qualidade entre boa e ótima estão situadas nas Ugrhis do Pontal do Paranapanema e Baixo Tietê.

Esgoto
De acordo com o gerente do Departamento de Tecnologia de Águas Superficiais e Efluentes Líquidos da Cetesb, Eduardo Mazzolenis de Oliveira, 43, o relatório de 2002 só confirma uma tendência, apontada em 2001, de piora da qualidade das águas. "A carga orgânica, resultante do lançamento de esgoto, é alta, o que coloca mais da metade dos rios em situação de comprometimento da captação para o abastecimento", diz.
Na região de Campinas, por exemplo, cortada pelas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, embora o índice de coleta e tratamento de esgoto tenha aumentado ao longo dos últimos dez anos, a média tratada ainda é baixa -em torno de 23%.
Grande parte do problema do Piracicaba pode ser resolvido com o tratamento de esgoto da cidade de Campinas. "Vamos investir, até 2004, R$ 180 milhões em obras para tratamento de esgoto", disse o presidente da Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água S.A.) -responsável pela rede de esgoto do município-, Vicente Andreu Guillo, 45.
No rio Corumbataí, também na bacia do Piracicaba, a pesquisadora da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Sâmia Maria Tauk-Tornisielo, 57, alerta para a redução do Cascudo, um peixe que se alimenta de algas e que sobrevive até em águas poluídas.
O relatório mostra, ainda, que as altas concentrações carga orgânica comprometem os principais rios da região metropolitana de São Paulo: Tietê, Pinheiros, Tamanduateí e Juqueí. Todos têm situação preocupante do ponto de vista sanitário e, conforme a Cetesb, sem sinais de recuperação.
Para os especialistas em qualidade da água, o problema da poluição dos rios no Estado tem outro nome: falta de investimento.
"Há muito tempo não se vê um investimento pesado nessa área", disse a professora do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Mônica Porto, 46.
Segundo Porto, embora tenha havido progresso no tratamento de esgoto, ainda não foi investido o suficiente. "Além disso, muitos projetos iniciados ainda estão em andamento", afirmou.


Próximo Texto: Estudo avaliou 234 pontos
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.