São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/MUDANÇAS

Chefe de agência espacial assume Infraero

Nove dias depois de assumir o ministério da Defesa, Nelson Jobim demitiu ontem o brigadeiro José Carlos Pereira

Gaudenzi é filiado ao PSB e atual presidente da Agência Espacial Brasileira, vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA

Em sua primeira substituição no setor da aviação, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, demitiu ontem o brigadeiro José Carlos Pereira da presidência da Infraero. Seu sucessor será o ex-deputado Sérgio Maurício Britto Gaudenzi, que toma posse segunda.
Engenheiro baiano, Gaudenzi, 65, é filiado ao PSB e atual presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira), do Ministério de Ciência e Tecnologia. Foi secretário da Fazenda da Bahia durante o governo de Waldir Pires (1987-1989), ex-ministro da Defesa, e ficou amigo de Nelson Jobim na Câmara, na legislatura de 1991 a 1995.
A mudança ocorre nove dias após a posse de Jobim na Defesa, onde já anunciou que queria mudanças até "o começo da semana" -que acaba hoje.
A Infraero é a estatal que cuida da infra-estrutura de 67 aeroportos, 84 unidades de apoio e 33 terminais de carga. Em 2006, arrecadou R$ 2 bilhões em taxas e concessão de espaços comerciais. Desde 2003, tem mais de 80 processos no Tribunal de Contas da União.
Ouvido pela reportagem, Gaudenzi não confirmou a indicação para a presidência da Infraero, mas afirmou que foi procurado pelo ministro Nelson Jobim durante a semana.

Acúmulo
Sobre a crise aérea, Gaudenzi disse tratar-se de um "acúmulo de problemas". "Eu ouço dizer do pessoal da aviação o seguinte: avião, quando tem problema, nunca é uma coisa só".
O presidente da Agência Aeroespacial Brasileira também afirma que um dos fatores que contribuem para a crise é uma falta de coordenação nas ações tomadas pela Infraero e pela Anac. Mas diz que fala isso "como leigo, como leitor de jornal". Para ele, não há como dar um diagnóstico sem conhecer a estrutura das instituições por dentro.
"É preciso juntar essas pontas [Infraero e Anac], é preciso trabalhar mais junto. Para dar uma cobertura melhor, tem que ter um trabalho conjunto".

Um minuto
A conversa de Jobim com o brigadeiro J. Carlos, como é conhecido, aconteceu na tarde de ontem, na Base Aérea de Brasília. Conforme a Folha apurou, durou um minuto, tempo para que o ministro comunicasse que ele estava deixando o cargo e que a posse e a transmissão à Gaudenzi serão na segunda.
J. Carlos deixa o cargo desgastado "por falar demais" e sob suspeitas de corrupção e má qualidade das obras da estatal na gestão anterior, do hoje deputado federal Carlos Wilson (PT-PE) e quando Pereira era diretor de operações. A última controvérsia envolvendo o brigadeiro foi a entrega da pista principal de Congonhas sem o "grooving" (ranhuras), semanas antes do acidente.
Pereira foi informado no dia 25 de julho que deixaria o cargo. Nos bastidores, porém, vinha tentando manter-se na função, argumentando que problemas independiam dele: a diretoria é loteada por interesses políticos e que não tinha autonomia para mudanças.
Brigadeiros amigos de J. Carlos ainda tentaram interceder, inclusive o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, sem sucesso. Jobim reclamou que ele "falava demais" e era "muito confuso" durante as reuniões.
Apesar de toda a imprensa ter publicado que estava deixando o cargo, J. Carlos ainda participou da primeira reunião do Conselho Nacional de Aviação Civil, já com Jobim.
Dois dias depois, voltaram a se encontrar na Defesa. Foi quando o brigadeiro entregou ao ministro um plano para recuperar uma das pistas de Guarulhos, em três etapas.
Em entrevista à Folha, J. Carlos havia classificado a pista de "não confiável" e advertia que não concordava com a posição da Agência Nacional de Aviação Civil de postergar o início das obras para 2008. O orçamento é de R$ 11 milhões, já com as ranhuras, e ele disse que a Infraero estava com tudo pronto para começar.


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