São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil pode ter falta de pilotos em 4 anos

A Anac estuda a concessão de bolsas de estudo para tentar evitar a escassez de comandantes de aviões de grande porte

Crescimento do número de passageiros no país e a debandada de profissionais para companhias da Ásia e da Índia são os motivos

MAELI PRADO
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Além das deficiências da infra-estrutura dos aeroportos, o país deve enfrentar, em três a quatro anos, outro gargalo decorrente do crescimento do tráfego aéreo no Brasil: a falta de pilotos especializados em aviões de grande porte.
A própria Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que regula o setor aéreo, prevê o problema e aposta na implementação de bolsas de estudo -já que a formação dos pilotos é extremamente cara- como forma de incentivar novos comandantes e tentar evitar a escassez de mão-de-obra no futuro.
São dois fatores principais que causam preocupação: em primeiro lugar, as altas taxas de crescimento do número de passageiros no Brasil -no ano passado, por exemplo, a demanda cresceu 12,3% em relação a 2005. Se em 2001 havia 542 jatos no Brasil, hoje há 629.
Além disso, há a debandada de pilotos brasileiros para companhias da Ásia e da Índia: como o tráfego aéreo cresce no mundo todo, essas companhias aéreas demandam profissionais experientes e os brasileiros são seduzidos por ótimas propostas para trabalhar no exterior, que incluem até aluguel e escola de inglês dos filhos.
"A demanda [por comandantes] é superior à oferta. Em algum momento as duas linhas vão se cruzar, e vai ter escassez", afirma Alex Castaldi, superintendente de estudos, pesquisas e capacitação para a aviação da Anac.
Há 5.049 pilotos de linha aérea (comandantes) e 5.739 pilotos comerciais no país (co-pilotos). O primeiro grupo precisa de, no mínimo, 1.500 horas de vôo, e o segundo, de 150.
"Vai faltar piloto no Brasil, com certeza", diz o presidente do Sinpac (Sindicato Nacional dos Pilotos da Aviação Civil), comandante Hugo Stringhini, 60. Ele diz que há 2.000 pilotos realmente trabalhando no país.
"Pelo menos 500 comandantes deixaram o Brasil nos últimos dois anos. Tem aviadores brasileiros experientes voando na Índia, Oriente Médio, Taiwan, China, Japão, Coréia do Sul e Indonésia", afirma ele.

Caro
Outro motivo é que entre as primeiras aulas em um aeroclube e o término das horas de vôo necessárias para se tornar piloto de linha aérea, o grau máximo da carreira, o aluno precisa investir até R$ 160 mil.
Já os salários não são tão interessantes. Segundo Stringhini, o salário inicial, em média, de um co-piloto no Brasil é de R$ 2.000. Já o de um comandante experiente pode chegar, no máximo, conta, a R$ 12 mil.
"Temos aqui no Brasil salários baixos em relação às responsabilidades que o piloto assume", disse Stringhini.
É no custo financeiro que a Anac pretende mexer para incentivar a formação de comandantes. "Estamos fazendo uma experiência no Rio Grande do Sul para instituir uma bolsa para horas voadas. Isso ainda está sendo organizado junto a aeroclubes e faculdades."
Devido ao êxodo de pilotos brasileiros para outros países, os sindicatos da categoria afirmam que os comandantes que atuam no Brasil estão ficando mais velhos. Há registros de comandantes acima dos 70 anos trabalhando. Segundo ele, no caso dos mecânicos o problema será na aviação executiva.
"Vamos pensar em bolsa nesse caso também, mas é necessário fazer uma reavaliação da carreira do mecânico, que poderia trabalhar com uma formação de 450 horas desde que sob a supervisão de um mecânico que já tenha 1.100 horas trabalhadas [limite mínimo atual]. Com a supervisão, a qualidade não cai, e conseguimos aumentar a quantidade de mecânicos. Já é assim nos EUA."


Texto Anterior: Há dúvidas sobre mudanças em Congonhas, dizem empresas
Próximo Texto: No Brasil, virar piloto custa até R$ 160 mil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.