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Brasil pode ter falta de pilotos em 4 anos
A Anac estuda a concessão de bolsas de estudo para tentar evitar a escassez de comandantes de aviões de grande porte
Crescimento do número de passageiros no país e a debandada de profissionais para companhias da Ásia e da Índia são os motivos
MAELI PRADO
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Além das deficiências da infra-estrutura dos aeroportos, o
país deve enfrentar, em três a
quatro anos, outro gargalo decorrente do crescimento do
tráfego aéreo no Brasil: a falta
de pilotos especializados em
aviões de grande porte.
A própria Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que regula o setor aéreo, prevê o problema e aposta na implementação de bolsas de estudo -já que
a formação dos pilotos é extremamente cara- como forma
de incentivar novos comandantes e tentar evitar a escassez de mão-de-obra no futuro.
São dois fatores principais
que causam preocupação: em
primeiro lugar, as altas taxas de
crescimento do número de passageiros no Brasil -no ano passado, por exemplo, a demanda
cresceu 12,3% em relação a
2005. Se em 2001 havia 542 jatos no Brasil, hoje há 629.
Além disso, há a debandada
de pilotos brasileiros para companhias da Ásia e da Índia: como o tráfego aéreo cresce no
mundo todo, essas companhias
aéreas demandam profissionais experientes e os brasileiros são seduzidos por ótimas
propostas para trabalhar no exterior, que incluem até aluguel
e escola de inglês dos filhos.
"A demanda [por comandantes] é superior à oferta. Em algum momento as duas linhas
vão se cruzar, e vai ter escassez", afirma Alex Castaldi, superintendente de estudos, pesquisas e capacitação para a
aviação da Anac.
Há 5.049 pilotos de linha aérea (comandantes) e 5.739 pilotos comerciais no país (co-pilotos). O primeiro grupo precisa
de, no mínimo, 1.500 horas de
vôo, e o segundo, de 150.
"Vai faltar piloto no Brasil,
com certeza", diz o presidente
do Sinpac (Sindicato Nacional
dos Pilotos da Aviação Civil),
comandante Hugo Stringhini,
60. Ele diz que há 2.000 pilotos
realmente trabalhando no país.
"Pelo menos 500 comandantes deixaram o Brasil nos últimos dois anos. Tem aviadores
brasileiros experientes voando
na Índia, Oriente Médio, Taiwan, China, Japão, Coréia do
Sul e Indonésia", afirma ele.
Caro
Outro motivo é que entre as
primeiras aulas em um aeroclube e o término das horas de
vôo necessárias para se tornar
piloto de linha aérea, o grau
máximo da carreira, o aluno
precisa investir até R$ 160 mil.
Já os salários não são tão interessantes. Segundo Stringhini, o salário inicial, em média,
de um co-piloto no Brasil é de
R$ 2.000. Já o de um comandante experiente pode chegar,
no máximo, conta, a R$ 12 mil.
"Temos aqui no Brasil salários baixos em relação às responsabilidades que o piloto assume", disse Stringhini.
É no custo financeiro que a
Anac pretende mexer para incentivar a formação de comandantes. "Estamos fazendo uma
experiência no Rio Grande do
Sul para instituir uma bolsa para horas voadas. Isso ainda está
sendo organizado junto a aeroclubes e faculdades."
Devido ao êxodo de pilotos
brasileiros para outros países,
os sindicatos da categoria afirmam que os comandantes que
atuam no Brasil estão ficando
mais velhos. Há registros de comandantes acima dos 70 anos
trabalhando. Segundo ele, no
caso dos mecânicos o problema
será na aviação executiva.
"Vamos pensar em bolsa nesse caso também, mas é necessário fazer uma reavaliação da
carreira do mecânico, que poderia trabalhar com uma formação de 450 horas desde que
sob a supervisão de um mecânico que já tenha 1.100 horas trabalhadas [limite mínimo atual].
Com a supervisão, a qualidade
não cai, e conseguimos aumentar a quantidade de mecânicos.
Já é assim nos EUA."
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