São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2007

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Delegado cai após "reciclar" investigação

Luiz Carlos do Carmo, que chefiava a 8ª Seccional, apresentou como inédita aos seus superiores apuração iniciada 2 anos antes

Foram cumpridos mais de 30 mandados, com apoio de 60 agentes fiscais destacados pelo governo do Estado; Carmo não se pronunciou

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado Luiz Carlos do Carmo foi afastado do cargo de chefe da 8ª Seccional da Polícia por ter apresentado aos responsáveis pela segurança pública de São Paulo uma investigação sobre sonegação fiscal com mais de dois anos de duração como se fosse algo inédito e que iria render cerca de R$ 50 milhões aos cofres públicos.
Além de Carmo -até então responsável pela coordenação de dez delegacias da zona leste de São Paulo-, outros dois delegados (um titular e um assistente), três investigadores e um chefe de investigação, todos do 66º DP (Vale do Aricanduva), também deixaram seus cargos por conta da quebra de confiança. O afastamento foi publicado no "Diário Oficial" do Estado.
Procurado ontem à noite, Carmo não se pronunciou.
A queda de Carmo começou a ser desenhada em junho, quando, ao lado dos seis policiais do 66º DP, ele apresentou à cúpula da Polícia Civil de São Paulo um pedido de apoio para realizar uma megaoperação contra a sonegação fiscal praticada por 30 metalúrgicas da zona leste.
Carmo anunciou que o governo do Estado poderia arrecadar até R$ 50 milhões com os impostos sonegados. Disse ainda que o método de sonegação era inédito e que a operação teria grande repercussão.
Em meio à crise enfrentada pela Polícia Civil no período, principalmente devido a acusações de corrupção envolvendo caça-níqueis, o secretário da Segurança, Ronaldo Marzagão, e o delegado-geral, Mário Jordão Toledo Leme, deram sinal verde para a operação.
Mais de 30 mandados judiciais foram cumpridos por policiais, juntamente com cerca de 60 agentes e fiscais da Secretaria da Fazenda estadual, destacados especialmente pelo Palácio dos Bandeirantes.

Nada de novo
Dias depois, os advogados das metalúrgicas que foram alvo dos mandados judiciais tentaram, sem sucesso, obter cópias do inquérito policial. A dificuldade para obter os documentos (o inquérito era público e não tinha segredo decretado) chegou à cúpula da polícia, que decidiu apurar o motivo.
Quando o delegado-geral recebeu as cópias do inquérito policial com uma capa na qual constava o ano de 2005 como o da abertura da investigação, a ação de Carmo e de seus subordinados passou a ser vista como "quebra de confiança" e a sua saída foi decidida.
Atualmente, o inquérito sobre a sonegação fiscal é analisado pela cúpula da Polícia Civil, que busca indícios de irregularidades nas ações policiais. Já se sabe, por exemplo, que a investigação apresentada como inédita por Carmo começou em 2005 a pedido da Procuradoria Geral de Justiça e da Secretaria da Fazenda.
Também está comprovado que o "novo método de sonegação" é, na verdade, a velha tática das "offshores", as empresas abertas em paraísos fiscais.
Carmo é amigo do ex-secretário da Segurança Saulo de Castro Abreu Filho.


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