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Delegado cai após "reciclar" investigação
Luiz Carlos do Carmo, que chefiava a 8ª Seccional, apresentou como inédita aos seus superiores apuração iniciada 2 anos antes
Foram cumpridos mais de 30 mandados, com apoio de 60 agentes fiscais destacados pelo governo do Estado; Carmo não se pronunciou
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado Luiz Carlos do
Carmo foi afastado do cargo de
chefe da 8ª Seccional da Polícia
por ter apresentado aos responsáveis pela segurança pública de São Paulo uma investigação sobre sonegação fiscal
com mais de dois anos de duração como se fosse algo inédito e
que iria render cerca de R$ 50
milhões aos cofres públicos.
Além de Carmo -até então
responsável pela coordenação
de dez delegacias da zona leste
de São Paulo-, outros dois delegados (um titular e um assistente), três investigadores e um
chefe de investigação, todos do
66º DP (Vale do Aricanduva),
também deixaram seus cargos
por conta da quebra de confiança. O afastamento foi publicado
no "Diário Oficial" do Estado.
Procurado ontem à noite,
Carmo não se pronunciou.
A queda de Carmo começou a
ser desenhada em junho, quando, ao lado dos seis policiais do
66º DP, ele apresentou à cúpula
da Polícia Civil de São Paulo um
pedido de apoio para realizar
uma megaoperação contra a
sonegação fiscal praticada por
30 metalúrgicas da zona leste.
Carmo anunciou que o governo do Estado poderia arrecadar até R$ 50 milhões com os
impostos sonegados. Disse ainda que o método de sonegação
era inédito e que a operação teria grande repercussão.
Em meio à crise enfrentada
pela Polícia Civil no período,
principalmente devido a acusações de corrupção envolvendo
caça-níqueis, o secretário da
Segurança, Ronaldo Marzagão,
e o delegado-geral, Mário Jordão Toledo Leme, deram sinal
verde para a operação.
Mais de 30 mandados judiciais foram cumpridos por policiais, juntamente com cerca de
60 agentes e fiscais da Secretaria da Fazenda estadual, destacados especialmente pelo Palácio dos Bandeirantes.
Nada de novo
Dias depois, os advogados
das metalúrgicas que foram alvo dos mandados judiciais tentaram, sem sucesso, obter cópias do inquérito policial. A dificuldade para obter os documentos (o inquérito era público e não tinha segredo decretado) chegou à cúpula da polícia,
que decidiu apurar o motivo.
Quando o delegado-geral recebeu as cópias do inquérito
policial com uma capa na qual
constava o ano de 2005 como o
da abertura da investigação, a
ação de Carmo e de seus subordinados passou a ser vista como
"quebra de confiança" e a sua
saída foi decidida.
Atualmente, o inquérito sobre a sonegação fiscal é analisado pela cúpula da Polícia Civil,
que busca indícios de irregularidades nas ações policiais. Já
se sabe, por exemplo, que a investigação apresentada como
inédita por Carmo começou em
2005 a pedido da Procuradoria
Geral de Justiça e da Secretaria
da Fazenda.
Também está comprovado
que o "novo método de sonegação" é, na verdade, a velha tática das "offshores", as empresas
abertas em paraísos fiscais.
Carmo é amigo do ex-secretário da Segurança Saulo de
Castro Abreu Filho.
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