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Delegada que acusou policiais vira plantonista
Enquanto esteve na Corregedoria da Polícia Civil de SP, Alexandra Randmer da Silveira foi a "campeã de indiciamentos'
Delegada acusou
54 policiais civis por vários
crimes; delegado-geral
afirma que transferência foi
"rotina administrativa"
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A delegada Alexandra de
Agostini Randmer da Silveira,
37, teve sua situação profissional definida pela cúpula da Polícia Civil de São Paulo: de integrante da Corregedoria Geral
da corporação, onde foi considerada a "campeã de indiciamentos" no primeiro semestre
de 2008, com 54 policiais acusados de crimes, ela virou plantonista no 13º DP (Casa Verde),
na zona norte de São Paulo.
A decisão de retirar a delegada da corregedoria e mandá-la
para um distrito policial da capital partiu do chefe da corporação, o delegado-geral Maurício José Lemos Freire.
No dia 29 de junho, apenas
cinco dias após concluir a investigação sobre as 29 pessoas
-dentre as quais nove policiais
civis, sendo três delegados-
suspeitas de utilizar a infra-estrutura da Polícia Civil em Ferraz de Vasconcelos (Grande
SP) para falsificar e vender
CNHs (habilitações), a delegada foi retirada da corregedoria.
De acordo com o promotor
Marcelo Alexandre de Oliveira,
do Ministério Público de Guarulhos (Grande São Paulo) e
também um dos responsáveis
pela investigação contra os
acusados de vender CNHs falsas, a retirada da policial da corregedoria foi uma "retaliação".
Rotina administrativa
Em nota oficial, o delegado-geral, Maurício Freire, informou que a transferência da delegada "deu-se a pedido do delegado diretor da Corregepol
[corregedoria], Francisco Alberto de Souza Campos". A mudança, segundo ele, foi "por razões de rotina administrativa".
Além de sair da corregedoria,
onde ficou um ano e meio, a delegada também foi ameaçada,
em maio, quando investigava
cinco policiais suspeitos de
desviar 327,5 kg de cocaína.
A informação é de outros delegados ouvidos pela Folha e
que pediram anonimato, já que
Freire os proíbe de conceder
entrevista. Questionado sobre
a ameaça contra a policial,
Freire afirmou: "Não é raro que
autoridades policiais recebam
ameaças ao longo de sua vida
profissional".
A delegada não foi encontrada ontem pela reportagem para
falar sobre a sua transferência
e sobre a ameaça.
Ao terminar a apuração sobre a máfia das CNHs, a delegada pediu a decretação da prisão
preventiva dos 29 suspeitos.
Além de ser contra o pedido da
decretação da prisão preventiva dos três delegados acusados,
segundo apurou a Folha, a cúpula da Polícia Civil não queria
que ela pedisse à Justiça a quebra dos sigilos fiscal e telefônico de todos os acusados.
Chegou à cúpula
Durante as investigações sobre a venda das CNHs falsas, a
delegada e a Promotoria descobriram que um integrante da
cúpula da Polícia Civil, o também delegado Elson Alexandre
Sayão, chefe do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro SP) e braço direito
de Freire, alertou um de seus
subordinados sobre a apreensão de 200 CNHs emitidas em
Ferraz de Vasconcelos.
Em uma conversa gravada
com autorização da Justiça, Sayão foi flagrado ao ligar, em 22
de abril, para o também delegado Carlos José Ramos da Silva,
o Casé, para alertá-lo sobre a
apreensão das carteiras.
Casé foi o coordenador da
Polícia Civil na região de Ferraz
até 21 de maio. Em 17 de julho,
ele acabou preso sob a acusação
de receber dinheiro dos suspeitos de vender CNHs falsas.
Apesar de o chefe da Polícia
Civil ter afirmado, na nota oficial, que a transferência da delegada Alexandra da corregedoria da corporação não afetou as
investigações do órgão, um desdobramento do que ela e a Promotoria investigaram após a
prisão de Casé estava previsto
para ocorrer nos próximos dias.
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