São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2008

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Delegada que acusou policiais vira plantonista

Enquanto esteve na Corregedoria da Polícia Civil de SP, Alexandra Randmer da Silveira foi a "campeã de indiciamentos'

Delegada acusou 54 policiais civis por vários crimes; delegado-geral afirma que transferência foi "rotina administrativa"

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A delegada Alexandra de Agostini Randmer da Silveira, 37, teve sua situação profissional definida pela cúpula da Polícia Civil de São Paulo: de integrante da Corregedoria Geral da corporação, onde foi considerada a "campeã de indiciamentos" no primeiro semestre de 2008, com 54 policiais acusados de crimes, ela virou plantonista no 13º DP (Casa Verde), na zona norte de São Paulo.
A decisão de retirar a delegada da corregedoria e mandá-la para um distrito policial da capital partiu do chefe da corporação, o delegado-geral Maurício José Lemos Freire.
No dia 29 de junho, apenas cinco dias após concluir a investigação sobre as 29 pessoas -dentre as quais nove policiais civis, sendo três delegados- suspeitas de utilizar a infra-estrutura da Polícia Civil em Ferraz de Vasconcelos (Grande SP) para falsificar e vender CNHs (habilitações), a delegada foi retirada da corregedoria.
De acordo com o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira, do Ministério Público de Guarulhos (Grande São Paulo) e também um dos responsáveis pela investigação contra os acusados de vender CNHs falsas, a retirada da policial da corregedoria foi uma "retaliação".

Rotina administrativa
Em nota oficial, o delegado-geral, Maurício Freire, informou que a transferência da delegada "deu-se a pedido do delegado diretor da Corregepol [corregedoria], Francisco Alberto de Souza Campos". A mudança, segundo ele, foi "por razões de rotina administrativa".
Além de sair da corregedoria, onde ficou um ano e meio, a delegada também foi ameaçada, em maio, quando investigava cinco policiais suspeitos de desviar 327,5 kg de cocaína.
A informação é de outros delegados ouvidos pela Folha e que pediram anonimato, já que Freire os proíbe de conceder entrevista. Questionado sobre a ameaça contra a policial, Freire afirmou: "Não é raro que autoridades policiais recebam ameaças ao longo de sua vida profissional".
A delegada não foi encontrada ontem pela reportagem para falar sobre a sua transferência e sobre a ameaça.
Ao terminar a apuração sobre a máfia das CNHs, a delegada pediu a decretação da prisão preventiva dos 29 suspeitos. Além de ser contra o pedido da decretação da prisão preventiva dos três delegados acusados, segundo apurou a Folha, a cúpula da Polícia Civil não queria que ela pedisse à Justiça a quebra dos sigilos fiscal e telefônico de todos os acusados.

Chegou à cúpula
Durante as investigações sobre a venda das CNHs falsas, a delegada e a Promotoria descobriram que um integrante da cúpula da Polícia Civil, o também delegado Elson Alexandre Sayão, chefe do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro SP) e braço direito de Freire, alertou um de seus subordinados sobre a apreensão de 200 CNHs emitidas em Ferraz de Vasconcelos.
Em uma conversa gravada com autorização da Justiça, Sayão foi flagrado ao ligar, em 22 de abril, para o também delegado Carlos José Ramos da Silva, o Casé, para alertá-lo sobre a apreensão das carteiras.
Casé foi o coordenador da Polícia Civil na região de Ferraz até 21 de maio. Em 17 de julho, ele acabou preso sob a acusação de receber dinheiro dos suspeitos de vender CNHs falsas.
Apesar de o chefe da Polícia Civil ter afirmado, na nota oficial, que a transferência da delegada Alexandra da corregedoria da corporação não afetou as investigações do órgão, um desdobramento do que ela e a Promotoria investigaram após a prisão de Casé estava previsto para ocorrer nos próximos dias.


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