São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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Irmãs são as únicas crianças em prédio de SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Bruna, 9, e Ana Paula, 6, são estranhas no ninho no edifício onde vivem, na Vila Mariana (zona sul de São Paulo). De todos os moradores dos 36 apartamentos do prédio, elas são as únicas crianças. Na estimativa da Seade, o bairro está entre os que sofreram redução da população de 0 a 14 anos. O local "perdeu" 4.909 crianças.
Além de faltarem colegas da mesma idade, as meninas também não têm onde brincar, pois o prédio não possui playground e a área destinada às crianças fica espremida entre a piscina e a sala de ginástica. As irmãs enfrentam ainda a antipatia de alguns vizinhos, que não aceitam bem a presença delas no prédio.
"Se elas brincam lá embaixo às 5h da tarde do sábado, o povo do prédio reclama do barulho", diz a mãe, a universitária Patrícia Paz, 35. Limitado ao apartamento de dois quartos, o lazer delas acaba sendo a televisão e o computador.
Na região dos Jardins, algumas praças abrigam mais cachorros que crianças. Na tarde de quinta, na praça Morungaba, por exemplo, o parquinho estava vazio, enquanto a pista de caminhada era ocupada por três adultos e seus acompanhantes: cinco cachorros.
"Eu brincava muito aqui quando era pequena, tinha um monte de crianças. Hoje, as pessoas vêm mais para caminhar", disse a estudante Manoela Quintas, 18.
Em bairros de classe média e alta, a queda na natalidade tem afetado até as escolas particulares. Dados do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo) apontam que, de 1996 até 2004, a quantidade de escolas cresceu 148%, enquanto o número de alunos aumentou apenas 16%.
Com isso, instituições têm fechado e algumas procuram se unir a outras para continuar funcionando. O Colégio Cidade de São Paulo, nos Jardins, é fruto da junção de três escolas das redondezas: Mater Dei, Logos e Bem Me Quer. Segundo Sylvio Gomide, que hoje é membro do conselho diretor do colégio e antes era do Mater Dei, a queda no número de alunos começou a ser sentida em 1992. "O Mater Dei chegou a ter 1.700 alunos e na época da fusão tinha metade disso", afirmou.
O mesmo aconteceu em Moema (zona sul) com as escolas Novo Esquema e Novo Ângulo que se uniram há cinco anos. "Ficou difícil manter a estrutura", disse Rita de Cássia Rizzo, diretora pedagógica da agora Novo Ângulo Novo Esquema. (LB)


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