São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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PET TERAPIA

Contato com animais ajuda a socializar e a reabilitar pacientes; em Brasília, método é ensinado em cursos de extensão

Bichos ajudam a tratar crianças doentes

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao tocar na cadela Isadora, Sergio, 6, sorri. Fazia um mês que a equipe médica não via essa reação no garoto. Portador de uma atrofia espinhal progressiva, ele vive há quatro anos em um leito de UTI, com respirador artificial. Ao se despedir do animal, ele pede: "Fica comigo. A enfermeira toma conta de nós dois".
Na cama ao lado, Lucas, 6, que tem distrofia muscular grave, abre as mãos com dificuldade para acariciar o coelho Caramelo. Depois, se impressiona com a dureza do casco e a frieza do pescoço da tartaruga Dona Telha, 18 anos recém-completados.
As cenas, pouco usuais em hospitais brasileiros, se repetem todos os meses na pediatria da Santa Casa de São Paulo e integram um programa chamado "Petsmile", em que as crianças internadas recebem em seus leitos a visita de cachorros, gatos, coelhos, tartarugas, chinchilas e hamsters.
"Para algumas dessas crianças a visita dos animais é o único contato com a natureza. É impressionante a melhora do humor e do ânimo delas. Depois, elas passam mais uma semana falando dos bichos e perguntado quando será a próxima visita", diz a médica Maria Lúcia Passarelli, diretora da pediatria da Santa Casa.
A exemplo da Santa Casa paulistana, vários serviços de saúde no país já utilizam animais na socialização, no tratamento e na reabilitação de pacientes com doenças agudas ou crônicas -é a chamada pet terapia.
No Centro de Medicina do Idoso do Hospital Universitário de Brasília (HUB), por exemplo, cães-terapeutas ajudam no tratamento de pacientes com a doença de Alzheimer. Ao brincar com eles e acariciá-los, os idosos treinam a memória recente, a mais afetada pela doença, além de apresentar melhoras no humor e ter estímulo ao contato físico.

Currículo
Na clínica Qualli Vida, em São Paulo, cães participam de sessões individuais de fisioterapia para pessoas com distúrbios neurológicos, como paralisa cerebral. Cecília Branco, especialista em pet terapia, conta que é traçado um programa de tratamento com o cão, que é adaptado às necessidades de cada paciente.
Ao caminhar com o animal, alimentá-lo ou arremessar a bolinha para ele buscar, os doentes treinam equilíbrio, força e resistência muscular, por exemplo. "É lúdico e, ao mesmo tempo, eles treinam a parte motora", diz Cecília, criadora da raça golden retriever e que também treina os cães para se tornarem pet terapeutas.
No Brasil, a única forma de terapia com animais prescrita por médicos é a equoterapia, na qual cavalos são utilizados no auxílio ao tratamento de problemas como autismo e síndrome de Down.

Curso
Mas já há um movimento de médicos e terapeutas para mudar esse quadro, baseado em vários estudos norte-americanos e europeus que mostram os benefícios da pet terapia no atendimento a pacientes com os mais diversos tipos de enfermidades.
Na UnB (Universidade de Brasília), a pet terapia já virou tema de curso de extensão. Os alunos recebem noções das doenças transmitidas dos animais para o homem, além de estudarem aquelas que podem ser tratadas com a terapia alternativa.
Segundo a professora Maria Darci Colares, que coordena o curso, a pet terapia não pretende substituir nenhum tipo de tratamento convencional. "É um trabalho paralelo", diz.
Para a médica veterinária Hannelore Fuchs, com a vacinação e check-up em dia e treinamento correto, os animais podem ser uma ótima alternativa no tratamento de várias doenças. É fundamental que o animal seja dócil.


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