São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Não há cura para psicopata, diz cientista

Assassinos como o vigia que serrou empresária no Rio não deveriam voltar à sociedade por serem doentes

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Não há cura para o psicopata, diz o neurocientista brasileiro Jorge Moll, autor de estudo que explica a psicopatia como uma doença. Um mal que afetaria áreas do cérebro responsáveis pela identificação da "moral".
Moll, coordenador do CBNU, unidade de neurociência cognitiva e comportamental da Rede D"Or de hospitais, e pesquisador do Instituto Nacional de Saúde Americano, e o também neurocientista Ricardo de Oliveira Souza defendem que o preso diagnosticado como psicopata não retorne à sociedade por ser portador de uma doença crônica. Para Souza, é importante obter o diagnóstico clínico em casos de presos que estão prontos para receber a liberdade condicional.
Os cientistas citam como exemplo o caso do vigia Juarez José de Souza, acusado de matar e esquartejar o corpo da empresária Edna Tosta Gadelha de Souza, 52, encontrado na semana passada semana em uma lixeira em Botafogo (zona sul do Rio). O vigia estava em liberdade condicional apesar de responder a processo por homicídio. Em seu depoimento, ele justificou o crime dizendo ter se sentido humilhado ao ser chamado de "magrinho", durante discussão por causa de uma vaga de estacionamento. Apresentou uma característica de psicopatia apontada pelos neurocientistas: a frieza. "Ele bateu na cabeça dela com uma pedra, cortou o pescoço e deixou o sangue correr, serrou o corpo ao meio com cuidado e depois jogou as partes fora", conta o neurocientista Souza.
Moll define a doença: "Todo o comportamento do indivíduo emerge da atividade moral. Os valores morais, os sentimentos morais e o cérebro estão integrados. Nos psicopatas, há distúrbios morfológicos do cérebro moral, como diferenças de volume e densidade. Pode ser genético ou por uma lesão, mas não há como recuperar essas áreas. Como devolver a empatia a alguém que não a tem?".
O cientista afirma que em psicopatas há ausência de sentimentos morais como culpa, gratidão, vergonha, admiração, compaixão e indignação.
A personalidade anti-social e a psicopatia têm grande relação, de acordo com o neurocientista Ricardo de Oliveira Souza. "O psicopata está em um subgrupo daqueles que têm personalidade anti-social. São indivíduos desprovidos de sensibilidade moral, mas com capacidade de discernir o certo do errado. Estima-se que 3% da população sofra da doença."
Para diagnosticar a psicopatia, o cientista cita como exemplo o PCL-R, um questionário com 20 perguntas criado nos anos 80 pelo canadense Robert Hare. O teste é usado pelo FBI (a polícia federal americana) para identificar "serial killers".
"Deve-se aplicar o teste em criminosos conhecidos. O diagnóstico que pode auxiliar o juiz na hora de conceder benefícios de progressão de pena", sugere.
O neurologista e especialista em medicina legal Wagner Martignoni de Figueiredo concorda que não há como soltar criminosos com psicopatia. "O Código Penal dá ao juiz o direito de mandar internar um indivíduo que oferece risco à sociedade".


Texto Anterior: Entenda o caso
Próximo Texto: Grupo médico defende a ressocialização
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.