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Não há cura para psicopata, diz cientista
Assassinos como o vigia que serrou empresária no Rio não deveriam voltar à sociedade por serem doentes
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
Não há cura para o psicopata,
diz o neurocientista brasileiro
Jorge Moll, autor de estudo que
explica a psicopatia como uma
doença. Um mal que afetaria
áreas do cérebro responsáveis
pela identificação da "moral".
Moll, coordenador do CBNU,
unidade de neurociência cognitiva e comportamental da Rede
D"Or de hospitais, e pesquisador do Instituto Nacional de
Saúde Americano, e o também
neurocientista Ricardo de Oliveira Souza defendem que o
preso diagnosticado como psicopata não retorne à sociedade
por ser portador de uma doença crônica. Para Souza, é importante obter o diagnóstico
clínico em casos de presos que
estão prontos para receber a liberdade condicional.
Os cientistas citam como
exemplo o caso do vigia Juarez
José de Souza, acusado de matar e esquartejar o corpo da empresária Edna Tosta Gadelha
de Souza, 52, encontrado na semana passada semana em uma
lixeira em Botafogo (zona sul
do Rio). O vigia estava em liberdade condicional apesar de responder a processo por homicídio. Em seu depoimento, ele
justificou o crime dizendo ter
se sentido humilhado ao ser
chamado de "magrinho", durante discussão por causa de
uma vaga de estacionamento.
Apresentou uma característica
de psicopatia apontada pelos
neurocientistas: a frieza. "Ele
bateu na cabeça dela com uma
pedra, cortou o pescoço e deixou o sangue correr, serrou o
corpo ao meio com cuidado e
depois jogou as partes fora",
conta o neurocientista Souza.
Moll define a doença: "Todo
o comportamento do indivíduo
emerge da atividade moral. Os
valores morais, os sentimentos
morais e o cérebro estão integrados. Nos psicopatas, há distúrbios morfológicos do cérebro moral, como diferenças de
volume e densidade. Pode ser
genético ou por uma lesão, mas
não há como recuperar essas
áreas. Como devolver a empatia a alguém que não a tem?".
O cientista afirma que em
psicopatas há ausência de sentimentos morais como culpa,
gratidão, vergonha, admiração,
compaixão e indignação.
A personalidade anti-social e
a psicopatia têm grande relação, de acordo com o neurocientista Ricardo de Oliveira
Souza. "O psicopata está em um
subgrupo daqueles que têm
personalidade anti-social. São
indivíduos desprovidos de sensibilidade moral, mas com capacidade de discernir o certo do
errado. Estima-se que 3% da
população sofra da doença."
Para diagnosticar a psicopatia, o cientista cita como exemplo o PCL-R, um questionário
com 20 perguntas criado nos
anos 80 pelo canadense Robert
Hare. O teste é usado pelo FBI
(a polícia federal americana)
para identificar "serial killers".
"Deve-se aplicar o teste em
criminosos conhecidos. O diagnóstico que pode auxiliar o juiz
na hora de conceder benefícios
de progressão de pena", sugere.
O neurologista e especialista
em medicina legal Wagner
Martignoni de Figueiredo concorda que não há como soltar
criminosos com psicopatia. "O
Código Penal dá ao juiz o direito de mandar internar um indivíduo que oferece risco à sociedade".
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