São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2010

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Com suspeita de tráfico de arte, Procuradoria visa antiquários

Inquérito apura por que grande parte dos comerciantes de obras de arte não está cadastrada no Iphan

Cadastro é obrigatório por lei; investigação quer coibir a lavagem de dinheiro e a venda ilegal de bens culturais

LETICIA DE CASTRO
DE SÃO PAULO

Santos barrocos brasileiros do século 18, cômoda do século 17, rádio-vitrola art déco do início do século 20. Relíquias como essas, disponíveis em antiquários de São Paulo, estão na mira do Ministério Público Federal.
O inquérito civil, proposto em março pela procuradora Ana Cristina Bandeira Lins, investiga o motivo de o cadastro de antiquários, leiloeiros e comerciantes de obras de arte, obrigatório por lei de 1937 regulamentada em 2007, não ter sido concluído pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional).
O objetivo é coibir a lavagem de dinheiro e o tráfico de bens culturais -obras de valor histórico que tenham relevância na cultura brasileira.
Acervos cadastrados podem ser cruzados com a lista de bens procurados, evitando que peças roubadas circulem no mercado.
"Aparentemente, há uma omissão por parte dos obrigados e também da administração", diz a procuradora.
Uma das grandes dificuldades é levantar o total exato de comerciantes. Segundo o dado mais recente do Iphan, do mês passado, são 53 em São Paulo e 143 no Brasil. Mas o órgão admite que isso não corresponde à realidade.
A Procuradoria solicitou um levantamento à prefeitura e à Receita Federal. A Secretaria da Cultura informou não ter esse registro; a Receita ainda não respondeu.

LAVAGEM
Outra frente de investigação da Procuradoria é no Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão que combate a lavagem de dinheiro no país.
A lei 9.613, regulamentada em 1999, obriga que pessoas físicas e jurídicas que comercializem arte e antiguidade se cadastrem no órgão, tenham registro de operações superiores a R$ 5.000 e informem transações suspeitas.
Na cidade de São Paulo, apenas 5 pessoas físicas e 14 jurídicas fizeram esse cadastro. Em todo o país, 58. Desde 1999, só 4 empresas comunicaram operações suspeitas.
"São números muito baixos. Há duas questões que dificultam esse processo: desconhecimento e descaso. Há aqueles que não sabem da obrigatoriedade do cadastro e outros que, mesmo sabendo, não o fazem", diz Antonio Gustavo Rodrigues, presidente do Coaf.
Desde a criação do órgão, houve só um procedimento envolvendo um antiquário.
Para o Iphan, o cadastramento está muito "aquém da expectativa", diz o diretor do Departamento de Patrimônio Material, Dalmo Vieira Filho.
Ele aposta num trabalho de sensibilização para que lojistas tomem a iniciativa de se cadastrar. "Notificação só em último caso."


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