São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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BANHO-MARIA

Prefeitura diz que, se a água estiver tratada com cloro, não há risco

São Paulo dispensa piscina pública de exame médico

Ana Ottoni - 6.out.2003/Folha Imagem
Banhistas esperam carteirinhas da piscina do CEU Jambeiro, em SP


RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo acabou com a obrigatoriedade dos exames médicos para que se possa nadar nas piscinas públicas do município. A decisão atinge as 61 piscinas dos clubes municipais e as 93 piscinas dos CEUs (centros educacionais unificados).
Os exames médicos são feitos para verificar se a pessoa que vai usar a piscina não tem nenhuma doença -de pele, principalmente- que possa ser transmitida a outras pessoas pela água. Caso tenha, ela deve se tratar e, depois de curada, submeter-se a um novo exame. O procedimento é praxe em clubes públicos e particulares.
Na portaria publicada no "Diário Oficial" do município de 31 de agosto, a Secretaria Municipal de Saúde justifica a decisão afirmando que não existe risco de transmissão de doenças infecciosas de pele se a água estiver tratada com hipoclorito de sódio (conhecido popularmente como cloro).
Segundo a médica Ana Cecília Sucupira, uma das coordenadoras da Secretaria de Saúde, a realização de exame médico a cada seis meses, como prevê um decreto estadual de 1979, "é uma farsa".
"Seis meses não são garantia de nada. Você faz o exame hoje e amanhã já pode ter uma micose", diz ela. "Os instrutores das piscinas dão uma olhada nas pessoas que vão entrar na água. Qualquer leigo pode fazer isso."
Ainda segundo a coordenadora, o fim dos exames nas piscinas ganha mais importância porque faltam médicos nos hospitais da periferia. "Ter médico nas piscinas é uma inutilidade que faz vista. Médico precisa atender aos doentes."
Especialistas concordam que o cloro é um "potente anti-séptico" para as piscinas, mas fazem ressalvas. "Os exames médicos precisam ser feitos porque o efeito do cloro é relativo", alerta o médico bacteriologista Luiz Trabulsi, do Laboratório de Microbiologia do Instituto Butantan.
O gerente médico do clube Paineiras, Marcelo Ferreira, dá um exemplo: "As doenças podem ser transmitidas pela água que fica empoçada nas bordas da piscina ou nos vestiários".
Para o professor de microbiologia Jorge Timenetsky, da USP, a ausência do exame médico precisa ser compensada com um cuidado ainda maior com a concentração do cloro: "Quanto mais suja e exposta ao sol é a piscina, mais o cloro se perde e mais os microorganismos se proliferam".
A professora de microbiologia da Unesp Deise Falcão cita uma pesquisa que ela fez em meados nos anos 90 mostrando que a maior parte das piscinas dos clubes de Araraquara continha bactérias, fungos e vírus. Eram tratadas com menos cloro que o necessário. Entre as doenças de pele mais comuns estão a foliculite, a frieira e a pitiríase versicolor (pano branco ou micose de praia).

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