São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2006

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Promotores vão rastrear cheques de viações de ônibus

Eles eram usados para comprar garantias bancárias falsas usadas em licitações

Carlos Alberto Tavares Carmona, ex-presidente da SPTrans e um dos acusados pelos promotores, já teve a prisão decretada

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) vão rastrear os cheques usados pelas empresas de ônibus para comprar garantias bancárias usadas na licitação do transporte público em São Paulo. As garantias eram falsas.
Um dos acusados pelos promotores, Carlos Alberto Tavares Carmona, teve sua prisão decretada por conta das garantias falsas junto com outras sete pessoas. Ele presidiu a SPTrans no governo de Marta Suplicy (PT) e integrava a comissão de licitação. Foi diretor de operações da empresa sob a gestão do ex-prefeito José Serra (PSDB) e na administração de Gilberto Kassab (PFL) acabou rebaixado para assessor da diretoria. Continua sendo, porém, um dos homens de confiança do secretário dos Transportes, Frederico Bussinger.
A SPTrans é a empresa de transportes da prefeitura. Ela informou ontem que não pretende afastar o assessor que teve a prisão decretada.
A hipótese da promotoria é que esse dinheiro pode ter beneficiado o ex-presidente da SPTrans e dois donos de corretoras envolvidos na falsificação das cartas de fiança, após passar por contas de laranjas. Uma investigação revelou que dois laranjas receberam depósitos de empresas de ônibus em suas contas e não conseguiram explicar a origem do dinheiro.
As cartas de fiança falsas foram usadas na licitação dos transportes públicos promovida por Marta. O processo, iniciado em dezembro de 2002, resultou em contratos que somam R$ 12,3 bilhões.
As 16 empresas de ônibus que venceram a disputa apresentaram garantias de um mesmo banco, o Banco de La Nación Argentina, todas falsas. O valor das fianças era de R$ 216 milhões. A promotora Sandra Reimberg calcula que o grupo envolvido na falsificação ganhou R$ 2,16 milhões.
Dois empresários são acusados pela comercialização das cartas falsas: Leo Achemboim e Rodolfo da Silva Magalhães, donos das corretoras que venderam as fianças. O ex-presidente da SPTrans é acusado de ter feito lobby para a Secretaria de Finanças aceitar a carta do Banco de La Nación Argentina. Dois laranjas já foram identificados na investigação da Polícia Civil: Eduardo Assali Achoa e Celso Antonio Filho. Achoa recebeu um cheque de cerca de R$ 8 mil da Viação Gato Preto e não soube explicar à polícia a razão do depósito.
Todas as empresas de ônibus que compraram as cartas de fiança dizem ter pago o negócio com cheques nominais ao Banco de La Nación Argentina. Para a promotoria, o endosso dos cheques foi falsificados e depositado em contas de laranjas.
O objetivo do rastreamento pretendido pelos promotores é descobrir quem se beneficiou com depósitos em contas de laranjas. O secretário de Transportes à época, Jilmar Tatto, autorizou a assinatura dos contratos sem a entrega das garantias, segundo a acusação feita pelos promotores Sandra Reimberg, Roberto Porto e Arthur Pinto de Lemos Jr., do Gaeco. A denúncia foi aceita pela Justiça e os acusados passaram a ser réus.
A Secretaria de Transportes diz que os contratos foram assinados em 21 de julho de 2003 e as cartas de garantias foram apresentadas três dias depois. Só em 2005, todas as cartas falsas do Banco de La Nación Argentina foram trocadas.


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