São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Trânsito rouba 33 minutos por viagem de carro em SP

Pesquisa feita pelo Metrô mostra que, em dez anos, a frota da capital cresceu 31%

Duração média dos deslocamentos de carro piorou 5 minutos em 10 anos; no transporte coletivo, as viagens levam 71 minutos

Raimundo Paccó/Folha Imagem
Trânsito complicado na av. Paulista; paulistano perde 33 minutos por viagem em São Paulo, segundo pesquisa Origem/Destino

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem anda de carro em São Paulo perde 33 minutos no trânsito, por trajeto, em média.
São cinco minutos a mais do que em 1997 -o maior crescimento da história em um período de dez anos já registrado na pesquisa Origem/Destino do Metrô de São Paulo.
E a lentidão não afeta só quem anda de carro: quem vai de transporte coletivo leva em média 71 minutos -13% a mais que em há dez anos.
A Folha obteve dados da pesquisa, colhidos em 2007, e que ainda estão sob análise do Metrô. Os números mostram que nem o rodízio de veículos, criado em 1997, nem os 84 km de corredores de ônibus e nem os 11 km de metrô inaugurados desde então conteram a deterioração do trânsito na cidade.
Em dez anos, a frota de veículos na capital cresceu 31%, o suficiente para compensar a saída de 20% dos carros das ruas com o rodízio. Resultado: São Paulo tem hoje o trânsito mais lento da história.
Além do maior número de carros, investimentos insuficientes em transporte coletivo e a tendência de as pessoas morarem mais longe do trabalho ajudam a explicar a lentidão do trânsito, segundo especialistas.
"É carro demais. Se tivesse metrô, ia ser melhor e mais rápido", diz o eletricista Gasimiro de França, 53, que chega a gastar três horas e meia do Grajaú (zona sul) até o centro.

Ruim com ele, pior sem ele
"Se com o rodízio e os corredores [o trânsito] está ruim, imagina sem eles?" diz o economista e pesquisador em alternativas para transportes do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Alexandre Gomide.
"O poder público parece estar sempre correndo atrás do prejuízo. Não se segue um planejamento estratégico, de longo prazo, para se chegar à cidade que se quer", diz Gomide.
Para o professor de engenharia de transportes da USP Cláudio Barbieri, outro motivo da piora do trânsito é a ocupação desordenada da cidade.
"Empreendimentos de grande porte estão sendo erguidos em áreas que não suportam mais trânsito, como na região do Itaim Bibi e Vila Olímpia. Quem cuida da ocupação urbana não olha para o trânsito, quem cuida do trânsito não olha para a ocupação", disse.
Ex-secretário dos Transportes Metropolitanos da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) e atual presidente da Emplasa (estatal responsável pelo planejamento urbano da região metropolitana), Jurandir Fernandes reconhece a insuficiência de investimentos no transporte de massa nos últimos anos, e diz que o rodízio não passou de "paliativo".
Embora avalie a gestão do transporte público no período como "dentro do previsto" pelo Pitu (Plano Integrado de Transporte Urbano), que estabelece metas para a região metropolitana em períodos de 20 anos, ele diz que "não bastam mais rodízio, nem mais metrô, nem mais corredores, nem mais de tudo isso que está aí".
"O remédio vai ser amargo", diz ele, referindo-se, entre outras soluções, ao pedágio urbano, previsto para 2015 na atualização do Pitu.
Fernandes observa que o Bilhete Único -que iniciou, em 2004, a integração entre os ônibus da capital, metrô e trens- também influenciou. "O preço fixo da passagem faz com que as pessoas não se importem em ir morar mais longe, porque sabem que irão gastar o mesmo valor", afirma. (ALENCAR IZIDORO, EVANDRO SPINELLI, RICARDO SANGIOVANNI e BRUNA SANIELE)


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