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Trânsito rouba 33 minutos por viagem de carro em SP
Pesquisa feita pelo Metrô mostra que, em dez anos, a frota da capital cresceu 31%
Duração média dos deslocamentos de carro piorou 5 minutos em 10 anos; no transporte coletivo, as viagens levam 71 minutos
Raimundo Paccó/Folha Imagem
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Trânsito complicado na av. Paulista; paulistano perde 33 minutos por viagem em São Paulo, segundo pesquisa Origem/Destino
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem anda de carro em São
Paulo perde 33 minutos no
trânsito, por trajeto, em média.
São cinco minutos a mais do
que em 1997 -o maior crescimento da história em um período de dez anos já registrado
na pesquisa Origem/Destino
do Metrô de São Paulo.
E a lentidão não afeta só
quem anda de carro: quem vai
de transporte coletivo leva em
média 71 minutos -13% a mais
que em há dez anos.
A Folha obteve dados da pesquisa, colhidos em 2007, e que
ainda estão sob análise do Metrô. Os números mostram que
nem o rodízio de veículos, criado em 1997, nem os 84 km de
corredores de ônibus e nem os
11 km de metrô inaugurados
desde então conteram a deterioração do trânsito na cidade.
Em dez anos, a frota de veículos na capital cresceu 31%, o
suficiente para compensar a
saída de 20% dos carros das
ruas com o rodízio. Resultado:
São Paulo tem hoje o trânsito
mais lento da história.
Além do maior número de
carros, investimentos insuficientes em transporte coletivo
e a tendência de as pessoas morarem mais longe do trabalho
ajudam a explicar a lentidão do
trânsito, segundo especialistas.
"É carro demais. Se tivesse
metrô, ia ser melhor e mais rápido", diz o eletricista Gasimiro de França, 53, que chega a
gastar três horas e meia do
Grajaú (zona sul) até o centro.
Ruim com ele, pior sem ele
"Se com o rodízio e os corredores [o trânsito] está ruim,
imagina sem eles?" diz o economista e pesquisador em alternativas para transportes do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), Alexandre Gomide.
"O poder público parece estar sempre correndo atrás do
prejuízo. Não se segue um planejamento estratégico, de longo prazo, para se chegar à cidade que se quer", diz Gomide.
Para o professor de engenharia de transportes da USP Cláudio Barbieri, outro motivo da
piora do trânsito é a ocupação
desordenada da cidade.
"Empreendimentos de grande porte estão sendo erguidos
em áreas que não suportam
mais trânsito, como na região
do Itaim Bibi e Vila Olímpia.
Quem cuida da ocupação urbana não olha para o trânsito,
quem cuida do trânsito não
olha para a ocupação", disse.
Ex-secretário dos Transportes Metropolitanos da gestão
Geraldo Alckmin (PSDB) e
atual presidente da Emplasa
(estatal responsável pelo planejamento urbano da região
metropolitana), Jurandir Fernandes reconhece a insuficiência de investimentos no transporte de massa nos últimos
anos, e diz que o rodízio não
passou de "paliativo".
Embora avalie a gestão do
transporte público no período
como "dentro do previsto" pelo
Pitu (Plano Integrado de
Transporte Urbano), que estabelece metas para a região metropolitana em períodos de 20
anos, ele diz que "não bastam
mais rodízio, nem mais metrô,
nem mais corredores, nem
mais de tudo isso que está aí".
"O remédio vai ser amargo",
diz ele, referindo-se, entre outras soluções, ao pedágio urbano, previsto para 2015 na atualização do Pitu.
Fernandes observa que o Bilhete Único -que iniciou, em
2004, a integração entre os ônibus da capital, metrô e trens-
também influenciou. "O preço
fixo da passagem faz com que as
pessoas não se importem em ir
morar mais longe, porque sabem que irão gastar o mesmo
valor", afirma.
(ALENCAR IZIDORO, EVANDRO SPINELLI, RICARDO SANGIOVANNI e BRUNA SANIELE)
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