São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Com crise na Bolsa, SP só vende metade de títulos em leilão

Prefeitura esperava receber, no mínimo, R$ 347,7 milhões com venda de Cepacs, mas só conseguiu R$ 203,1 milhões

O prefeito Kassab conta com os recursos da operação urbana para, por exemplo, iniciar a obra de extensão da av. Jorn. Roberto Marinho

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise econômica mundial bateu nos cofres da Prefeitura de São Paulo na semana que antecede as eleições. O termômetro foi a queda, pela metade, no preço dos Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção) da operação Água Espraiada no leilão realizado anteontem pela Bovespa. A comparação é com o lançamento feito no início do ano.
A prefeitura conseguiu vender 79.650 dos 650 mil títulos levados ao pregão da Bolsa e obteve somente o valor mínimo, de R$ 535.
O preço alcançado ontem representa 48% do valor do pregão anterior, em 22 de fevereiro deste ano, quando cada título foi negociado a R$ 1.100.
Ou seja, caso o mercado imobiliário demonstrasse o mesmo apetite pelos títulos públicos, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), encheria os cofres com mais R$ 715 milhões.
Com o resultado, ficou com R$ 203,1 milhões. O valor mínimo esperado era de R$ 347,7 milhões -ou seja, são R$ 144,6 milhões a menos de recursos para a prefeitura.
Outro indicativo da baixa procura é que, no leilão de fevereiro, a prefeitura conseguiu vender todos os 186.740 Cepacs, com um ágio de 141,3% sobre o preço de abertura, fixado em R$ 460. Com o sucesso do pregão, a arrecadação final atingiu R$ 207 milhões.
Kassab conta com os recursos da operação urbana para iniciar a obra de extensão da avenida Jornalista Roberto Marinho até a av. Pedro Bueno, mais um passo para a ligação entre a marginal Pinheiros e a rodovia dos Imigrantes.
Também está prevista na emissão o uso da verba na construção de casas para retirar as favelas Rocinha Paulistana, Beira Rio, Alba, Babilônia e Taquaritiba, que ficam na região.
Outro lote de obras contempla a implantação de ruas no Brooklin e no Jabaquara e investimento em transporte coletivo nos setores da Chucri Zaidan e no Brooklin.
A Folha procurou ontem o secretário municipal de Obras, Marcelo Cardinale Branco, para saber se a arrecadação abaixo do previsto pode atrapalhar o andamento desses projetos, mas ele não se manifestou.
Quando elabora editais de venda dos Cepacs, a Emdurb (Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano) se baseia nos prognósticos de mercado feitos pelo Banco do Brasil. É um indicativo tanto do volume da demanda do mercado pelos títulos quanto do preço a que eles podem chegar.
Os Cepacs são títulos que a prefeitura lança para dar aos compradores o direito de construir em uma região mais do que permite a lei de zoneamento. Esses títulos foram criados para dar à prefeitura recursos extras para investir nas regiões das operações urbanas. Toda receita fica em uma conta vinculada às obras previstas.

Momento delicado
O vice-presidente de Obras do SindusCon (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), Luiz Antônio Messias, ficou surpreso com a baixa procura pelos Cepacs no leilão.
"Nas últimas reuniões em que discutimos o assunto, o pessoal dizia que estava faltando Cepac no mercado, por causa do boom imobiliário", disse.
O economista Francisco Pessoa Faria, consultor da LCA, diz que esta semana foi um momento inadequado para o lançamento de títulos, uma vez que há um clima de insegurança entre os investidores. "Pode não ser somente a crise mundial. É possível que esteja havendo uma acomodação no mercado imobiliário", diz.


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