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Minoria, homens resistem e dão aulas em escolas
de educação infantil
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim como o rinoceronte
de Sumatra, o professor Fábio
Guacy de Lucio, 37, é uma espécie raríssima. Único homem
entre as mais de 50 mulheres
da equipe de educação infantil
do colégio Rainha da Paz, no
Alto de Pinheiros (região oeste
de São Paulo), ele trabalha
com crianças de 1 a 7 anos.
Brinca, sorri da gritaria, acode o chororô e, se for preciso,
troca fraldas.
"Aqui eles têm uma estrutura legal. Na outra escola eu fazia tudo. Não me importo."
É curioso vê-lo, com 1,90 m,
134 kg, pés 48, brincando como
se fosse um He-Man com a
criançada. Enquanto Yunis, 3,
sobe em um tronco à sua frente, Fábio explica, com seu jeito
tranquilão, que não pretende
se igualar às crianças. "Procuro me mostrar próximo."
O começo foi como professor de educação física. Fábio
substituiu um amigo que dava
aula para crianças e, em seu
empenho para se aproximar
delas, passou a fazer aquilo que
se tornou sua especialidade:
contar histórias. Surtiu tanto
efeito que ele era chamado para contá-las em festinhas. "As
crianças param o que estão fazendo para ouvir histórias."
Carreira feminina
Casado, pai de um filho, Fábio é o típico "na dele", o que
não impede o assédio de mães
e o ciúme de pais. "Tem uns
que chegam aqui dizendo que
o filho os chamou pelo meu
nome. Tranquilizo-os dizendo
que as crianças também me
chamam pelo nome deles", diz.
De acordo com o relatório da
Unesco de 2006, apenas 2%
dos profissionais de educação
infantil no Brasil são homens.
O estudo diz ainda que o magistério é uma carreira predominantemente feminina: há
83% de mulheres; 98%, no caso de creches e pré-escolas.
"Historicamente, o ofício de
professora (de crianças) é visto
como uma extensão da maternidade. E existe a ideia de que
o homem, um arrimo de família, não conseguiria mantê-la
com uma profissão "de mulher'", diz a professora de psicologia da educação da USP
Sílvia Gasparian Colello.
Pais x Professores
E os pais, o que acham de
deixar os filhos pequenos, na
escola, nas mãos de um homem? "Todo mundo adora a
presença masculina nesse universo infantil. Os meninos, então, nem se fala", diz a dona de
casa Ana Cristina Andrade, 37,
mãe de Luana, 4.
Cristiano Costa, 36, um dos
educadores das 140 crianças
do colégio Grão de Chão, em
Perdizes (zona oeste de SP),
diz que sua relação com os pais
é "ótima". "Nunca senti nenhum estranhamento, ao contrário. Eles procuram chegar,
conversar, e confiam", diz ele,
cuja carreira começou com aulas de capoeira para crianças.
Agora, Cris, que tem três filhos
com idades entre 12 e 5 anos,
cursa pedagogia.
Calça xadrez, camisa de capoeira, tênis All Star e dreadlock no cabelo, ele está montando um castelo em cima de
módulos de madeira, galões
grandes vazados e pneus no
quintal da escola.
Rodeado por crianças que
gritam, gargalham, se beliscam, tudo ao mesmo tempo,
Cris amarra um pano branco
(o telhado do castelo) em um
mastro colorido e uma árvore.
"As pessoas dizem que eu tenho paciência, mas não tenho
nenhuma. Se dependesse de
paciência, não estaria aqui. Pra
mim é natural, prazeroso estar
com crianças."
A dona da escola, Paula Ruggiero, 44, acredita que "professores e professoras são complementares: as crianças precisam dos dois". "O homem lida de forma diferente com a
criança. O grupo do Cris é extremamente autônomo em
questões básicas, como ir ao
banheiro. E uma professora
nunca proporia uma brincadeira com módulos colocados
numa altura dessas."
O mais jovem
O professor mais jovem a ingressar na rede municipal, aos
19, escolheu a educação infantil. "Eu me sinto mais à vontade entre os menorzinhos", diz
André Sanches, 24, que trabalha com turmas de 24 crianças
de até 3 anos, no Centro Educacional Unificado (CEU) de
Cidade Dutra (zona sul).
Casado com uma professora,
pai de um menino de 1 ano, André entrou para o magistério
por influência da irmã. "São 60
professoras e o André: por ser
o único, todos, mesmo os alunos de outras séries, o conhecem pelo nome", diz a gestora
do CEU, Maria Ângela Tescaro. André é o entusiasmo em
pessoa. Fala de seus métodos e
do amor pelas crianças, mas,
como os outros entrevistados,
sem afetações de "professorinha". "Ninguém me trata por
"tio" ou professor. As crianças
me chamam pelo nome."
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