São Paulo, Quinta-feira, 04 de Novembro de 1999
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SISTEMA PRISIONAL

Secretário acredita que presos vão tentar fugir novamente; sequestrador exigiu presença da TV

Governo de Goiás aceita transferir líder, e rebelião acaba após 48 horas

Alan Marques/Folha Imagem
Presos negociadores (de capuz) libertam dus reféns de rebelião da Casa de Prisão Provisória


WILLIAM FRANÇA
enviado especial a Aparecida de Goiânia

Após 48 horas de rebelião, foi encerrada sem vítimas fatais a tentativa frustrada de fuga de Osmar Martins, 36, que liderou o sequestro do cantor sertanejo Wellington de Camargo, irmão da dupla Zezé di Camargo e Luciano.
Martins concordou com o fim da rebelião -que teve a adesão de cerca de outros 30 presos- depois de a Secretaria da Segurança Pública de Goiás firmar um compromisso de tentar transferi-lo para Campo Grande (MS).
Antes de encerrar o motim, Martins exigiu que dois presos lessem uma "lista de reivindicações" que trazia o acordo para a sua transferência e pedidos de ordem administrativa -como melhoria da comida e aceleração de julgamentos- para os demais detentos da Casa de Prisão Provisória de Goiás, onde ocorreu a tentativa de fuga.
"Esta rebelião foi encerrada. Melhor dizendo: nós adiamos o problema, porque temos quase que certeza de que ele vai tentar fugir novamente", afirmou o secretário da Segurança Pública de Goiás, Demóstenes Xavier Torres, ao anunciar o fim da rebelião, às 18h40 de ontem.
O secretário enfatizou que a polícia continua trabalhando com a hipótese de fuga, cujos planos incluem até mesmo o sequestro de autoridades goianas ou familiares deles como "moeda de troca". "Tudo isso é verdadeiro", afirmou Demóstenes.

Operação cinematográfica
O encerramento da rebelião foi uma operação quase cinematográfica, envolvendo a participação da imprensa, especialmente das emissoras de TV de Goiânia.
Martins exigiu que a imprensa transmitisse, ao vivo, a leitura das suas reivindicações -que foi feita por dois outros detentos. Ele já havia adotado o mesmo procedimento às 14h30, quando liberou uma refém e uma detenta que estão grávidas.
Lembrando o filme "Velocidade Máxima", com Keanu Reeves e Sandra Bullock, em que o bandido monitorava o sequestro de um ônibus pela TV, Martins exigiu primeiramente que as emissoras mostrassem imediatamente as imagens da liberação das reféns "como prova de que tudo correu bem".
Para isso foi preciso que a polícia levasse os cinegrafistas e fotógrafos a menos de dez metros da porta da unidade 3 para gravar as imagens. O local permanece cercado pela polícia e, até anteontem, era considerado área de altíssimo risco de vida.
Em seguida, para cumprir a exigência dos presos, a polícia teve de religar a energia elétrica da unidade 3 para que os aparelhos de TV pudessem ser acionados e, assim, as imagens das emissoras locais pudessem ser checadas pelos rebelados, o que ocorreu por volta das 14h30. O mesmo voltou a ser feito às 18h, na hora da leitura das reivindicações.
No momento em que o secretário da Segurança anunciava o fim da tentativa de fuga, Osmar Martins apareceu na sala de entrevistas, algemado e conduzido por agentes penitenciários, para "dar a sua versão da história".
O secretário, que assustou-se com a presença inesperada -ao lado dele estava toda a cúpula da secretaria e a procuradora-geral do Estado, Ivana Farina-, proibiu as entrevistas. "Lugar de preso é na cela".
Segundo Demóstenes, ele terá empenho pessoal na transferência de Osmar Martins para Campo Grande. "Era bom que isso acontecesse para o Estado de Goiás", afirmou.
A transferência depende, no entanto, de Martins ser julgado e condenado pela Justiça de Goiás e, depois, de a Justiça de Mato Grosso do Sul aceitá-lo, se houver vaga no sistema penitenciário do Estado. Não há previsão de tempo para que isso ocorra.

Reféns libertados
Os agentes carcerários Ana Carolina Silva Ribeiro e Kenesse Raquel da Silva (que estavam havia pouco mais de 15 dias na função), além de Ednamar Fernandes Barreira, Núbia Martins Marques e Wilson Antônio da Silva, que trabalhavam havia cinco meses com os presos da CPP, foram soltos às 18h40.
Os cinco foram levados para a enfermaria, onde receberam tratamento emergencial. Segundo a polícia, eles não sofreram agressões nem tinham ferimentos.




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