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Policiais são suspeitos de forjar BOs para extorsão
Boletins falsos eram usados para extorquir dinheiro de donos de postos de gasolina
Esquema funcionava, segundo a investigação, no DP de Cumbica; falso denunciante recebia até R$ 300 por ocorrência
ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
Um delegado, dez policiais
civis e cinco policiais federais
são investigados sob a suspeita de forjar boletins de
ocorrência para extorquir dinheiro de donos de postos de
combustível.
As ocorrências falsas eram
registradas na delegacia da
Polícia Civil no aeroporto de
Cumbica, em Guarulhos.
A investigação começou
em julho deste ano. Um dos
suspeitos de chefiar o esquema é Carlos Alberto Achôa
Mezher, ex-chefe da delegacia de Cumbica. À Folha ele
negou as acusações.
O esquema, segundo apuração da Polícia Federal e do
Ministério Público Estadual,
era sempre o mesmo: funcionários do aeroporto recebiam de R$ 100 a R$ 300 para
registrar boletins de ocorrência previamente combinados
com os policiais.
Nos BOs, eles contam que,
ao abastecer seus carros em
um posto, viram caminhões-tanque sem identificação
descarregar combustível.
Na queixa, os denunciantes dizem que pediram nota
do combustível por terem ficado desconfiados, mas alegam que o dono não a apresentou e por isso decidiram
denunciar o caso à polícia.
A suspeita é que foram registrados ao menos 50 boletins contra postos. A PF e a
Promotoria dizem ainda não
saber se os donos chegaram
a aceitar a extorsão. Também
afirmam não saber qual o critério de escolha dos postos.
A principal testemunha do
esquema já foi ouvida (o nome é preservado a pedido
dos investigadores) e detalhou como era o esquema.
Dois dos boletins investigados foram registrados em
16 de abril -um contra um
posto em Sertãozinho e outro
em Rio Claro. Nos dois casos,
os denunciantes dizem ter
abastecido exatos R$ 20.
Com o boletim em mãos,
de acordo com a investigação, os policiais civis e federais passavam a pressionar
os donos dos postos para obter algum tipo de vantagem.
Os registros dos boletins,
segundo a testemunha, eram
sempre direcionados pelos
policiais federais, que já entregavam aos escrivães da
Polícia Civil em Cumbica os
dados dos postos que deveriam constar na ocorrência.
SEGURANÇA PRIVADA
Desde o início das investigações, Mezher assumiu a
chefia da Deatur (Delegacia
Especializada no Atendimento ao Turista), órgão responsável por cuidar de eventos como a F-1.
Conforme a Folha revelou
em junho, Mezher já é investigado por explorar segurança privada com uma empresa
em nome de sua mãe e de sua
ex-mulher. O delegado Mezher nega participação direta
na administração da empresa, o que é proibido por lei.
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