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URBANIDADE
Doces (e os nem tão doces) bárbaros
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Depois de quase três décadas, no próximo sábado, o grupo Doces Bárbaros
-Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Gal Costa e Maria Bethânia-
volta a se apresentar em São
Paulo. O reencontro será o marco de uma despedida para os
paulistanos.
O grupo fará o último show da
praça da Paz, no parque Ibirapuera, que, a partir de agora,
não vai receber mais as multidões embaladas pela música.
Várias vezes, espectadores cometeram barbaridades contra a
paisagem: espalharam lixo e danificaram os jardins, promovendo tumultos. "É o último megashow", informa a secretária municipal do Meio Ambiente, Stela
Goldenstein, ao defender que
um parque deve acalmar as pessoas, e não provocar-lhes mais
estresse.
Está previsto para amanhã o
anúncio da construção de um
novo auditório, patrocinado pela iniciativa privada (TIM), a ser
erguido nas imediações da Oca e
do prédio da Bienal, depois da
marquise -as manifestações
culturais ocorrerão naquela
área, deixando a praça da Paz
para o lazer mais contemplativo,
longe da agitação.
O anúncio representa um momento histórico para o arquiteto
Oscar Niemeyer, que vem do Rio
de Janeiro para apresentar o
projeto do auditório, cuja lotação será de aproximadamente
400 pessoas -ele fez um projeto
para que a parte externa do teatro sirva para a realização de
shows ao ar livre. "É um velho
sonho", diz Niemeyer, que sempre carregou certa frustração
com o Ibirapuera.
Ele ajudou a desenhar o parque para a comemoração dos
400 anos da cidade de São Paulo,
em 1954. "Deixaram de fazer o
teatro", lembra o arquiteto. A
obra servirá agora para comemorar os 450 anos da cidade, em
janeiro de 2004.
A violência fez a cidade mais
barbarizada e muito menos doce
do que era nos tempos em que
Niemeyer projetou o Ibirapuera.
E também do que era nos tempos
em que Caetano, Gal, Gil e Bethânia lançaram, em São Paulo,
na década de 60, o movimento
tropicalista. Antigamente, não
se imaginava gradear um parque público -e Caetano cantava, em "Sampa", que os novos
baianos poderiam passear nas ruas de São Paulo e "curtir numa boa" sua garoa.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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