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Sem tratamento adequado, esgoto de CEU polui Billings
Exigência de retirar no mínimo 80% da carga orgânica do sistema não é cumprida
Escola está em área de manancial; reservatório fornece água a 4,5 milhões de pessoas e enfrenta problemas de poluição
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
O CEU Alvarenga, na zona
sul de São Paulo, joga esgoto
sem tratamento adequado na
represa Billings desde o início
do funcionamento da escola, há
três anos. O problema é admitido pela própria Secretaria Municipal de Educação.
Por estar em área de manancial, às margens da represa, a
unidade teria de retirar no mínimo 80% da carga orgânica do
esgoto, segundo a legislação
ambiental exigida pela Cetesb.
A secretaria admite que o sistema de tratamento da unidade
não atende às exigências, mas
não informa qual é o índice de
eficiência atual. A gestão Gilberto Kassab (PFL), porém,
afirma que trabalha para sanar
o problema (leia texto abaixo).
Auditoria feita entre fevereiro e março deste ano pelo TCM
(Tribunal de Contas do Município), que fiscaliza o andamento de projetos da prefeitura, verificou que ao menos àquela
época o sistema de tratamento
não estava funcionando.
Diariamente, segundo a Cetesb, o CEU Alvarenga produz
em média 38m3 de esgoto, o
que equivale a 38 caixas de
água -volume considerado
grande pela companhia, por ser
uma região de preservação.
A represa Billings fornece
água para cerca de 4,5 milhões
de pessoas de São Paulo e do
ABC paulista e enfrenta sérios
problemas de poluição.
Devido à ineficiência do tratamento de esgoto, a unidade
não possui licença ambiental
desde junho do ano passado,
quando expirou uma autorização provisória.
Criados na gestão da prefeita
Marta Suplicy (PT), os CEUs
são empreendimentos que
buscam oferecer, além das aulas regulares, atividades de lazer como piscinas e oficinas de
artes a estudantes e para a população de baixa renda.
Cronologia
A prefeitura, durante a gestão Marta, pediu o licenciamento da escola em janeiro de
2003 ao Balcão Único de Licenciamento Integrado, entidade
do governo estadual responsável pela regularização quando o
caso envolve mais de um órgão
do sistema ambiental.
Como o projeto não apresentava todos os dados necessários, foram pedidas complementações. Em junho de 2004,
foi emitido um despacho (liberação) provisório, válido por
um ano, para que a situação fosse regularizada.
O período expirou durante a
gestão José Serra (PSDB) e não
foi pedida a prorrogação.
Em dezembro do ano passado, a Cetesb, responsável pela
análise do tratamento de esgoto, indeferiu o pedido de licenciamento, pois a Prefeitura de
São Paulo não apresentou os
dados referentes à redução de
carga orgânica. Desde então, a
gestão Kassab, que assumiu em
abril deste ano, não conseguiu
sanar o problema.
"Não podemos dar um parecer favorável apenas porque é
uma obra social importante",
disse o gerente da agência Santo Amaro da Cetesb, Ronald Pereira Magalhães. No CEU, estudam quase 2.000 alunos.
"Soa muito estranho que os
órgãos públicos não cobrem essa adequação", afirmou o promotor de Habitação e Urbanismo José Carlos de Freitas.
"Qualquer fator de poluição
nos mananciais deveria ter máxima prioridade, porque é uma
área de captação de água para
uso humano."
O Dusm (Departamento do
Uso do Solo Metropolitano),
por meio da assessoria de imprensa, informou que, em tese,
a escola poderia ser até interditada devido à falta de licença.
O órgão afirmou, porém, que
isso não ocorreu porque a prefeitura tem procurado a regularização. A entidade citou também a relevância social da obra.
"Em termos de volume de esgoto, o que é produzido pelo
CEU não chega a ser tanto. Mas
imagina que exemplo o poder
público está passando para toda a população que vive em
áreas de mananciais", disse a
ambientalista Marussia Whately, do ISA (Instituto Socioambiental). A estimativa é que, na região da Billings, morem ao menos 700 mil pessoas.
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