São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PF deverá culpar pilotos, radares e controladores

Inquérito deve concluir que uma soma de fatores causou o choque entre o Boeing da Gol e o jato norte-americano

Para polícia, plano de vôo deveria ter sido seguido e a altitude errada do Legacy, percebida pelos operadores; "área cega" seria outra causa

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O inquérito da Polícia Federal sobre o choque entre o avião da Gol e o jatinho norte-americano, que resultou na morte de 154 pessoas em 29 de setembro, caminha para a responsabilização de vários envolvidos no acidente, incluindo controladores de vôo e tripulantes do Legacy, além de ressaltar as falhas existentes nos sistemas de radar da Aeronáutica.
Segundo a Folha apurou, o delegado encarregado do caso, Renato Sayão, considera que não houve uma única falha nem um único culpado, mas uma série de "vetores causais" que levaram à colisão entre as duas aeronaves.
No caso dos pilotos do jatinho, eles deveriam ter seguido o plano de vôo ou ter insistido no contato com o centro de controle de Brasília, ao sobrevoar a cidade, para mudar de altitude para Manaus.

37 mil pés
Após deixar São José dos Campos, o Legacy seguiu em 37 mil pés até se chocar com o Boeing, em Mato Grosso, desrespeitando o plano de vôo que previa uma descida até 36 mil pés após Brasília e a subida a 38 mil pés pouco antes da colisão. Os pilotos do jato alegam que receberam autorização para voar em 37 mil até Manaus.
De acordo com depoimentos colhidos pela Polícia Federal, um dos controladores de vôo não percebeu que o sistema corrigiu automaticamente o plano de vôo virtual do Legacy quando este passou por Brasília, mostrando altitudes previstas e não as que estavam efetivamente sendo voadas.
Por uma coincidência trágica, o "transponder" (equipamento que permite comunicação precisa com radares) do jato ficou inoperante naquele momento-tirando do sistema dados sobre sua altitude.
Um dos controladores de plantão em Brasília no dia do acidente afirmou que não ordenou a mudança na altitude do Legacy porque achava que o jatinho estava em 36 mil pés, como previa o plano de vôo, e "porque não havia outro tráfego [avião] nas proximidades". O Boeing da Gol, porém, vinha em sentido contrário.
Um terceiro fator é que o sistema de radares da Aeronáutica apresenta falhas na região entre Mato Grosso e Manaus, onde há "áreas cegas" -a passagem de aeronaves não não é captada devidamente .
Em resumo, na visão da PF, o acidente não teria ocorrido se:
1 - Os tripulantes do Legacy tivessem respeitado o plano de vôo ou insistido no contato com o centro de Brasília;
2 - Os controladores de vôo tivessem detectado que o Legacy voava a uma altitude não prevista. Dessa forma, mesmo sem conseguir entrar em contato com o jatinho, poderiam ter avisado ao Boeing da Gol para que desviasse da rota;
3 - Se não houvesse "áreas cegas" entre os radares, os controladores de vôo poderiam ter detectado com mais facilidade que o jatinho não se encontrava na altitude prevista no plano.


Texto Anterior: Há 50 anos: Países vão tirar forças do Egito
Próximo Texto: Grupo é preso ao tentar roubar 350 computadores de faculdade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.