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Psicólogos tentam reproduzir ambiente familiar em abrigos
Objetivo é controlar a situação de estresse e ansiedade, que pode gerar conflitos
A orientação é que famílias sejam colocadas no mesmo espaço, perto de vizinhos; cheiro acolhedor de café é outro recurso utilizado
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
Orientado pela Defesa Civil
nacional, um grupo de 40 psicólogos está trabalhando para
reproduzir nos abrigos o ambiente em que as vítimas da tragédia em Santa Catarina viviam
antes de serem atingidas pelas
chuvas. A idéia é controlar a situação de estresse e ansiedade
que leva a conflitos em abrigos.
A orientação é que famílias
sejam colocadas no mesmo espaço, de preferência perto de
vizinhos de bairro, e não em
alas separadas entre homens
ou mulheres, como aconteceu
em ao menos um dos abrigos.
"O desastre começa agora. O
mais difícil é administrar a retomada do cotidiano", diz a major Daniela da Cunha Lopes,
única psicóloga da Defesa Civil
nacional deslocada para Santa
Catarina para orientar os
trabalhos.
Desde domingo, ela visitou
22 abrigos em ao menos cinco
cidades. Segundo Daniela, o cotidiano após a tragédia pode levar as vítimas a reproduzirem
nos abrigos uma situação semelhante à descrita no livro
"Ensaio sobre a Cegueira", do
escritor José Saramago. Recentemente levada ao cinema, a
história aborda o caos em um
alojamento para cegos afetados
por uma epidemia.
"Os saques em algumas cidades deixaram isso muito claro",
diz Daniela. Ela afirma que não
faltam alimento nem estrutura,
mas, por instinto de sobrevivência, a pessoa reage de maneira "bárbara".
Há relatos sobre pequenos
furtos e conflitos entre abrigados de diferentes culturas e
condições, além da preocupação com o consumo de bebidas.
A reprodução do espaço familiar, segundo Daniela, ajuda
a manter laços afetivos nos
abrigos e a criar uma sensação
de segurança após a tragédia.
"As pessoas chegam com
aquilo que tem representação
simbólica do que precisa ser reconstruído. É a foto da formatura, o relógio de parede, o álbum do casamento, a boneca
que o pai deu para a filha", cita.
"Pedimos doação de café, que
não tem valor nutritivo, mas
agrega, traz cheiro acolhedor,
uma identidade de volta. Pessoas se reúnem em volta dele",
diz a presidente do Conselho
Regional de Psicologia em SC,
Letícia Rauen Delpizzo.
Outro problema, dizem psicólogas, é o das crianças, que
passam a ver os abrigos como
"moradias definitivas". A volta
às atividades profissionais também é incentivada.
Colaborou DIMITRI DO VALLE, da Agência Folha
em Blumenau
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