São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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Especialistas em defesa questionam uso do Exército

DE SÃO PAULO

Especialistas na área de defesa ouvidos pela Folha são contrários ao uso do Exército no combate à violência no Rio de Janeiro.
Para o sociólogo da Unesp de Araraquara José dos Reis Santos Filho, o melhor emprego seria no reforço ao patrulhamento das fronteiras para impedir a chegada de armas aos morros.
Segundo ele, em teoria, a polícia fluminense estaria mais capacitada a comandar as ações no Alemão do que o Exército, por ter mais informações de inteligência e conhecer melhor o terreno.
"Mas legalmente o Exército tem razão em querer assumir o comando da operação, pois hierarquicamente é superior à polícia", disse.
Militares ouvidos pela Folha agem nos bastidores com a intenção de o Exército só ficar no morro se tiver comando completo da operação.
Para José Roberto Martins Filho, professor de ciências sociais da UFSCar, a ação do Exército no morro está em uma "zona de sombra".
Na avaliação do especialista em políticas de defesa, "é muito complicado e pouco recomendado" as tropas do Exército ficarem quase um ano na região do Complexo do Alemão e, ainda, exercerem função de polícia.
Ao patrulhar as ruas e ter suas operações subordinadas ao secretário de Segurança Pública, os soldados, do ponto de vista legal, ficam sob uma situação "questionável", diz.
A saída, para ele, seria chamar a Força Nacional de Segurança Pública. A Marinha cedeu seus blindados, mas não participou.
"Sou amplamente favorável à ocupação do morro para a retirada dos bandidos. Mas sou contra usar o Exército de forma indiscriminada, apenas pelo fato de não existir polícia suficiente para ser usada nesta ocasião."
Para Martins Filho, essa longa operação carrega três riscos: a eventual violência contra civis, a chance de corrupção dos soldados por parte do tráfico e o retrocesso na construção de uma mentalidade moderna de Defesa.
"Os avanços obtidos com operações como a do Haiti, em um Estado em crise, vão ser perdidos. O Exército não deve pensar apenas em fazer policiamento interno."
(LUIS KAWAGUTI e EDUARDO GERAQUE)


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