São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2004 |
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MOACYR SCLIAR As surpresas de um novo ano
Doações incluem recados e "cantadas". Além das caixinhas individuais
de final de ano, existem também as
caixinhas coletivas, que ficam nos
balcões de padarias, lanchonetes,
bares e farmácias. Numa lanchonete,
oito funcionários aguardavam
ansiosamente a abertura da caixa,
que, além das doações, continha
recadinhos e "cantadas" para as
garçonetes.
A dona da lanchonete estava acostumada a encontrar na caixinha recados para as
garçonetes, mas, na véspera do
Ano Novo, surpreendeu-se ao ver
ali um pequeno envelope azul
com seu próprio nome. Quem o
teria colocado na caixinha? Perguntou aos funcionários; ninguém sabia. Decerto a coisa fora
feita de maneira sub-reptícia, talvez com a ajuda de uma outra
pessoa. Mas era estranho, aquilo,
muito estranho. Mulher de meia-idade, divorciada e amargurada,
a dona do estabelecimento não tinha relações com outras pessoas,
nem queria tê-las. Chegou a pensar em jogar fora o envelope, mas,
depois de certa hesitação, acabou
por abri-lo. Continha uma curta
missiva, escrita numa bem caprichada letra. Você não me conhece, dizia o misterioso remetente,
que se assinava apenas com um
R. "Mas eu a admiro há muito
tempo. Sempre passo por aqui e
olho para você. Vejo em você uma
mulher enérgica, digna, bela. Minha timidez impediu-me de dirigir-me a você e tive de recorrer a
alguém para colocar essa carta na
caixinha, mas é que agora estou
decidido: quero começar 2004 a
seu lado. Para isso, acho que
precisamos nos encontrar." E
marcava um encontro num restaurante elegante para a noite de
2 de janeiro. Moacyr Scliar escreve às segundas-feiras, nesta coluna, um texto de ficção baseado em matérias publicadas no jornal. Texto Anterior: Estradas: Tráfego é tranquilo no retorno do feriado Próximo Texto: Consumo: Comerciante não recebeu conta, mas Telefônica cobrou juros Índice |
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